Fonte: http://www.religion-online.org/showchapter.asp?title=1573&C=1521
Leia também a parte anterior, a parte 5.
Bangkok 1972: Salvação Hoje
A conferência foi organizada pela Comissão Mundial de Missões e Evangelismo do Conselho Mundial de Igrejas e teve a presença de 340 participantes de 69 países. Falando sobre o tema principal, MM. Thomas ressaltou o fato de que a espiritualidade humana sustenta todo desejo humano por saúde e sexo, por desenvolvimento e justiça. Ele falou sobre o sentido de salvação hoje como espiritualidade humana compromissada com estruturas de sentido e sacralidade cabais - não em nenhum isolamento pietista ou individualista, mas relacionado e expresso dentro da revolução material, social e cultural do nosso tempo. A espiritualidade humana pode ser ou verdadeira ou falsa - ou relacionada com os sentido e cumprimento cabais da vida revelada em Cristo ou simplesmente criada por pessoas nos seus auto-centrismos e rejeição de Deus, e portanto idólatra. Todos impulsos seculares para vida humana mais plena devem ser colocados e interpretados nas suas relações com o sentido e cumprimento cabais da vida humana revelados na humanidade divina do Cristo crucificado e ressurreto. A preocupação principal da missão cristã é com a salvação da espiritualidade humana, com a escolha correta do ser humano de estruturas de sentido e sacralidade cabais.
A conferência de Bangkok afirmou duas características importantes de salvação. Em primeiro lugar ela afirmou a natureza abrangente da salvação. Em segundo lugar, ela afirmou que quando salvação é expressa em termos concretos, em relação com realidades expressas diariamente, ela apresenta uma variedade de faces. Sobre estas duas características, Emília Castro, um teólogo latino-americano que tornou-se o Diretor da Divisão Mundial de Missão e Evangelismo (DWME) depois da reunião de Bangkok e depois Secretário Geral do Conselho Mundial de Igrejas, escreveu:
Nós vimos que a preocupação pelo crescimento da Igreja está relacionada com a preocupação com justiça social e autenticidade cultural; que a participação cristã em lutas por justiça social, especialmente em ações favorecendo os fracos do mundo não é um desvio da preocupação principal da fé cristã mas precisamente a manifestação relevante dela no mundo de hoje. Nós descobrimos que em situações como o Vietnã, a prioridade para a salvação era paz e que a única forma para cristãos agirem com credibilidade era lutar por paz. Em outras situações nós descobrimos que salvação estava presente na busca por independência, ou por reconciliação. Em nenhum caso esta ou aquela prioridade particular esgotou as possibilidades ou o conteúdo da mensagem cristã de salvação, mas sem esta prioridade o Evangelho seria destruído.
Na sua afirmação sobre salvação hoje, a conferência afirmou:
Com gratidão e alegria nós afirmamos novamente nossa confiança no sofrimento de nosso Senhor crucificado e ressurreto ... Ao indivíduo ele vem com poder para libertá-lo de todo mal e pecado, de todo poder na terra e no céu, de toda ameaça de vida ou morte. Ao mundo ele vem como o Senhor do universo, com profunda compaixão pelo pobre e faminto, para libertar os fracos e os oprimidos. Aos poderosos e aos opressores ele vem com julgamento e piedade.
De acordo com a conferência, salvação expressa a preocupação e o amor de Deus por toda a humanidade. Portanto nada humano é estranho à comunidade cristã e à tarefa da missão cristã. Dentro desta noção abrangente de salvação, a conferência viu o trabalho salvífico de Cristo em quatro dimensões sociais. A salvação trabalha na luta por justiça econômica contra a exploração de pessoas por pessoas; na luta pela dignidade humana contra a opressão política de seres humanos; na luta por solidariedade contra a alienação de pessoas por pessoas; e na luta da esperança contra o desespero na vida pessoal. No processo de salvação nós devemos relacionar as quatro dimensões umas com as outras. Não existe justiça econômica sem liberdade política, não [existe] liberdade política sem justiça econômica. Não há justiça, não [há] dignidade humana, não [há] solidariedade sem esperança, não [há] esperança sem justiça, dignidade e solidariedade. Mas há prioridades históricas segundo as quais a salvação é antecipada em uma dimensão primeiro, seja no pessoal, no político ou no econômico. O ponto de entrada pode ser diferente de situação para situação. Mas nós precisamos nos dar conta de que tais antecipações não são o todo da salvação, e precisamos relembrar as outras dimensões. Esquecer disso negará a integralidade da salvação.
O tema principal foi dividido em três seções para discussões na conferência: Salvação e Justiça Social; Salvação e Identidade Cultural; e Renovação das Igrejas em Relação à Salvação.
A seção sobre Salvação e Justiça Social ressaltou que assim como o mal trabalha tanto na vida pessoal como em estruturas sociais exploratórias as quais humilham a humanidade, assim também a justiça de Deus se manifesta em ambas justificação do pecador e justiça política e social. As lutas por justiça econômica, liberdade política e renovação cultural são elementos na libertação total do mundo pela missão de Cristo. Depois de ressaltar que o problema da identidade pessoal está intimamente relacionado ao problema da identidade cultural, a seção sobre Identidade Cultural disse: "A cultura molda a voz humana que responde à voz de Cristo". Muitos cristãos que receberam o Evangelho por agentes ocidentais fazem a pergunta: fui realmente eu quem respondeu a Cristo? Não foi alguém outro em vez de mim? O problema é este: como podemos nós mesmos sermos completamente responsáveis ao recebermos a salvação de Cristo [?]. Como podemos nós responsavelmente responder à voz de Cristo ao invés de copiarmos modelos estrangeiros de conversão - impostos, não verdadeiramente aceitos? Nós nos recusamos a sermos mera matéria-bruta para ser usada por outras pessoas para alcançarem sua própria salvação. A universalidade da mensagem cristã não contradiz a sua particularidade. Cristo tem que ser respondido em situações particulares. Muitas pessoas tentam dar validade universal às suas próprias respostas ao invés de admitir que a diversidade de respostas a Cristo é essencial porque elas estão relacionadas às situações particulares e são, portanto, relevantes e complementares.
A terceira seção sobre Renovação na Missão põem grande ênfase na missão local da igreja local. Também levantou [o assunto do] relacionamento entre missões ocidentais e as igrejas no terceiro mundo. Neste contexto, Bangkok levantou a questão de um moratorium na missão e disse que tal moratorium permitiria que igrejas recipientes achassem sua própria identidade, que fizessem suas próprias prioridades e descobrissem dentro de suas próprias associações os recursos para levar adiante suas próprias missões autênticas.
Sem a salvação de igrejas dos seus cativeiros de interesses de classes dominantes, raças, e nações, não pode haver igreja salvífica. Sem a libertação de igrejas e cristãos de suas cumplicidades com injustiça e violência estruturais, não pode haver igreja libertária para a humanidade. Todas igrejas, todos cristãos se deparam com a questão [sobre] se eles servem Cristo e sua obra salvífica somente ou ao mesmo tempo os poderes da desumanidade. "Nenhum homem pode servir a dois senhores, Deus e Mamom" (Mateus 6.24). Nós devemos confessar nosso abuso do nome de Cristo com a acomodação pelas Igrejas dos poderes opressores, pela nossa própria apatia egoísta, falta de amor e medo. Estamos procurando a verdadeira comunidade de Cristo a qual trabalha e sofre por seu reino. Nós procuramos a igreja carismática a qual ativa energia para a salvação (1 Coríntios 12). Nós procuramos a igreja a qual inicia ações pela libertação e apoio do trabalho de outros grupos libertários sem calcular interesses próprios. Nós procuramos a igreja a qual é o catalisador do trabalho salvífico de Deus no mundo, uma igreja a qual não é o mero refúgio dos salvos mas uma comunidade servindo ao mundo no amor de Cristo.
A declaração de Bangkok de que nós procuramos uma igreja a qual não é um mero refúgio dos salvos mas uma igreja que é a catalisadora da obra salvífica de Deus no mundo resume, de certa forma, o pensamento ecumênico sobre igreja e missão durante as duas décadas depois da assembléia de Nova Déli do Conselho Mundial de Igrejas. Para tal desenvolvimento, as conferências de Genebra, Uppsala e Bangkok deram contribuições significativas. Doravante, a perspectiva ecumênica não está meramente confinada a relações inter-eclesiásticas e atitudes - cujo objetivo seria de superar divisões entre cristãos. Ela conclama para uma compreensão mais ampla da igreja do que é geralmente tida no contexto de sua missão no mundo contemporâneo. Ela conclama ao diálogo com outras religiões e tradições espirituais, e incorpora a perspectiva do pobre, da mulher e do oprimido em si mesma. Um novo entendimento da igreja católica e da universalidade do Evangelho surgiu das discussões durante este período. Tanto catolicidade e universalidade não são qualidades estáticas que podem ser expressas em estruturas institucionais de teologia. São qualidades dinâmicas que podem ser expressas ou manifestadas somente na missão da igreja ao viver em constante diálogo com o mundo.