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Saturday, January 30, 2010

Teologias de Libertação: Sacro e Profano


"Ele [Cristo] derrubou todos os muros, do sacro e do profano, das convenções, do legalismo, das divisões entre os homens e entre os sexos, dos homens com Deus, porque agora todos têm acesso a Ele e podem dizer 'Abba, Pai' (Ef 3,18; cf. Gl 4,6; Rm 8,15) [...] Daí que ele não funda uma escola a mais, nem elabora um novo ritual de oração, nem prescreve uma super-moral. Mas atinge uma dimensão e rasga um horizonte que obriga tudo a se revolucionar, a se rever e a se converter."
Trecho do livro "Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo". Editora Vozes, ISBN 978-85-326-0640-2, p. 72

 "Nada que afete o homem e sua história está isento da necessidade e da possibilidade de colocar-se em submissão a Cristo, e nada, portanto, está fora da esfera do interesse cristão e missionário. A missão integral é uma consequência lógica da soberania universal de Jesus Cristo.
  Sob esta perspectiva, a missão da igreja não pode restringir-se à pregação dos princípios do evangelho. Ela é orientada pelo propósito de Deus, que se cumprirá em seu devido tempo, de 'unir sob o mando de Cristo todas as coisas, tanto no céu como na terra.' Consequentemente, ela rejeita a dicotomia entre o secular e o sagrado e se transforma em um fermento que age sobre toda a massa."
Trecho do livro "O Que é Missão Integral?" por C. René Padilla, Editora Ultimato, ISBN 978-85-7779-031-9. p. 117

  Quais as diferenças que os amigos e as amigas vêem entre as duas abordagens nas características de 'fusão categórica' do secular e do sagrado? No primeiro parágrafo fica mais claro que a dicotomia entre sacro e profano é implodida por assim dizer pela pessoa de Cristo. No segundo parágrafo o fator causal não me parece tão claro, aludindo-se à autoridade de Cristo. Poder-se-ia dizer com o segundo parágrafo que a referida rejeição de dicotomia é também uma implosão?

(sobre a última citação, ver também o post "Missão Integral: missão e submissão")
  

Friday, January 29, 2010

Teologia da Libertação: A-cerca da Alienação

"Pode-se pregar de muitas maneiras sobre o Reino de Deus. Pode-se anunciá-lo como o outro mundo que Deus nos está preparando, que vem depois desta vida. Ou pode-se pregá-lo como sendo a Igreja representante e continuadora de Jesus com seu culto, sua dogmática, suas instituições e sacramentos. Estas duas maneiras colocam entre parêntesis o compromisso como tarefa de construção do mundo mais justo e participado e alienam o cristão diante do problema da opressão de milhões de nossos irmãos." (grifo meu)
 Trecho do livro "Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo". Editora Vozes, ISBN 978-85-326-0640-2, p. 36
"5 - REINO DE DEUS NÃO É SÓ ESPIRITUAL
  De tudo isso um dado resulta claro: Reino de Deus, ao contrário do que muitos cristãos pensam, não significa algo de puramente espiritual ou fora deste mundo. É a totalidade desse mundo material, espiritual e humano agora introduzido na ordem de Deus."
ibid p 43.
  Aqui estamos tocando em um ponto importante. O parágrafo começa falando da pregação sobre o Reino de Deus. Seria interessante notar que a pregação faria parte da evangelização e da missão (tanto na Teologia da Libertação quanto na Missão Integral). A parte interessante é quando começamos a pensar nos componentes da crença e da prática que corroborariam para a alienação do cristão.
  (Eu particularmente não vi ainda este tipo de ideia na Missão Integral, pelo menos articulada tão claramente. Enquanto a MI prima pela percepção de problemas sociais graves como a opressão, na literatura e nos discursos nas igrejas a evangelização como proclamação do outro mundo bem como conceitos como "culto" e "igreja" ainda parecem ser complementares à realidade social. Assim, não são alienantes, mas "parte do pacote")
  Talvez o problema não esteja no conceito de outro mundo, nem na "Igreja", nem nas instituições em si mesmos. Talvez o problema esteja em não atrelar constantemente o "outro mundo" (realidade escatológica), "Igreja", e instituições ao contexto social.
  Ainda assim, a pergunta persiste (e desconfio que seja mais epistemológica): existe algum transcendente que não aliena da realidade?
  Mesmo que várias pessoas rapidamente vão responder 'sim', acredito que o uso de linguagem transcendente (como pressuposições de conceitos como "outro mundo", ie "céu", "Deus", "culto", etc e suas ocorrências no discurso) deva estar primeiramente condicionado a um exercício sincero de percepção (e vivência) da realidade. Para que o uso de linguagem transcendente não seja um abuso, sugiro que seja condicionado a uma autocrítica com questões epistemológicas.
  (Sem ter os conceitos filosóficos muito claros, fico pensando se não seria um problema clássico de desconstrução, em que a percepção da realidade exige instrumentos que em vez de sujeitos tornam-se objetos. Não foi Caputo que disse que a desconstrução é a hermenêutica do Reino de Deus? Deve ser o meu sono.)

Teologia da Libertação: por que "não bombou" (ainda)?

   Já de início tenho que dizer que não posso aqui fazer jus ao termo "espiritualidade" pois não li ainda o livro "Mística e Espiritualidade", que foi um livro redigido depois de "Jesus Cristo Libertador". Em todo o caso, guardemos o termo para pensarmos posteriormente.
  O livro afirma:
"O acesso a Ele [Deus] não se faz primariamente pelo culto, pela observância religiosa ou pela oração. São mediações verdadeiras, mas em si ambíguas. O acesso privilegiado e sem ambiguidade se faz pelo serviço ao pobre no qual o próprio Deus se esconde anonimamente. A práxis libertadora constitui o caminho mais seguro para o Deus de Jesus Cristo."
 Trecho do livro "Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo". Editora Vozes, ISBN 978-85-326-0640-2, p. 29
  Lancei uma pergunta no Twitter: por que o pentecostalismo cresceu tanto na América Latina e a Teologia da Libertação não? Ariovaldo Ramos disse "o pent/o promove 1 espirit/e q gera dign/e pessoal e esperança, a teo pôs os pés dos pobres no chão, mas ñ comunicou espiritualid/e" [o pentecostalismo promove uma espiritualidade que gera dignidade pessoal e esperança, a teologia [da libertação] pôs os pés dos pobres no chão, mas não comunicou espiritualidade"].
  Primeiramente eu me pergunto se a Teologia da Libertação contém uma proposta de espiritualidade. Creio que sim. Até agora o livro citado acima bem como "Como Fazer Teologia da Libertação" elaboram uma teologia, sublinham enfaticamente a importância da práxis e estabelecem pontes entre a teoria e a prática. Seria interessante ler a história da Teologia da Libertação na América Latina perguntando-se se a sugestão desse trajeto foi seguida.
  Especulando arbitrariamente, listaria algumas opções:
a - O problema esteve na comunicação
b - O custo era muito alto
c - As práxis atreladas à espiritualidade eram diferentes demais ou 'livres' demais para poderem se desenvolver e morar dentro do Catolicismo Romano
d - Houve um problema de implementação na história onde não se fez a ponte entre teoria e prática de forma apropriade
e - Realmente, não há espiritualidade proposta pela Teologia da Libertação que seja atraente

Teologia da Libertação: Descontinuidades e Reconfiguração

 "[...] na Cristologia da libertação se pressupõe uma opção pela tendência dialética na análise da sociedade e pelo projeto revolucionário dos dominados. Ao dizer libertação, exprime-se uma opção bem definida que não é nem reformista nem progressista, mas exatamente libertadora implicando uma ruptura com o status quo vigente."

Trecho do livro "Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo". Editora Vozes, ISBN 978-85-326-0640-2, p. 22

"Nessa interpretação, chamada também de histórico-estrutural, a pobreza aparece como um fenômeno coletivo e além disso conflitivo exigindo, pois, sua superação num sistema social alternativo.
  A saída para essa situação, é efetivamente, a revolução entendida como a transformação das bases do sistema econômico e social. O pobre surge aqui como 'sujeito'."
Trecho do livro "Como Fazer Teologia da Libertação", Leonardo Boff, Clodovis Boff, Editora Vozes, 2007, p. 48,49

É interessante pensar na proposta de ruptura do status quo da Teologia da Libertação. Se essa "ruptura com o status quo" se traduz em violência, temos um problema. Como um Anabatista que preza pela não-violência e pela resolução de conflitos, tendo a ter hesitação de considerar opções violentas. Ao mesmo tempo, poucas vezes conseguimos contemplar a situação do próximo oprimido, vivenciando a violência impetrada a ele. Portanto não tomo conclusões simplistas. Não simplifico os dilemas éticos do problema.
  Talvez ao pensarmos nessa ruptura tenha que tomar em consideração o contexto histórico quando a Teologia da Libertação se desenvolveu. Na época dos anos 70 se respirava revolução política. O que dizer hoje depois da queda do muro de Berlim e do paradoxo dos protestos da praça de Tiananmen, que resultou em um massacre? O que dizer hoje depois da violência na Argentina nos anos 70 e 80?

 Ainda não terminei a leitura do livro citado, mas é bem interessante ver como ele aborda a relação de Jesus com os zelotes. O livro corretamente sublinha que apesar de Jesus ter 2 ou 3 discípulos zelotes, Jesus não parece ter se aderido ao movimento político. Ao contrário, Jesus fez uma grande reconfiguração no sentido filosófico do termo. Nesse sentido as rupturas além de políticas são, de forma mais abrangentes, sociais.

Thursday, January 14, 2010

Missão Integral: a classe média pergunta: "quem é o meu próximo?"

"A ação política mais efetiva, e também a mais coerente com o evangelho do reino de Deus, é a que se realiza 'desde as bases'; a que desde o princípio até o fim vê as grandes maiorias - 'os pobres' - como agentes de sua própria história, não como peões sobre um tabuleiro de xadrez." p. 77

Trecho do livro "O Que é Missão Integral?" por C. René Padilla, Editora Ultimato, ISBN 978-85-7779-031-9.

Muito interessante. Gostei e assino em baixo. A Teologia da Libertação também afirma a mesma coisa ao qualificar 'os pobres' como sujeitos da própria ação política (e práxis). A minha pergunta seria: e a classe média brasileira? Como seriam, na condição de classe média, suas ações políticas e práxis? Como suas práxis moldariam 'a visão dos pobres' e o 'convívio com os pobres' não de forma estigmatizadora mas dignificante? A classe média brasileira deveria se perguntar: "quem é o meu próximo?"

Missão Integral: a realidade do meu semelhante

"Deus ama a justiça, e ninguém que tenha nascido de Deus pode permanecer indiferente diante da exploração e da injustiça, da probreza e da fome que afligem seus semelhantes." p. 76

"Creio que o que falta são, em poucas palavras, pessoas cuja vida pessoal e comunitária estejam genuinamente orientadas para o reino de Deus e sua justiça. Pessoas que creem que o propósito de Deus é unir todas as coisas sob a autoridade de Cristo [...]" p. 53

Trechos do livro "O Que é Missão Integral?" por C. René Padilla, Editora Ultimato, ISBN 978-85-7779-031-9.

Realmente "ninguém que tenha nascido de Deus pode permanecer indiferente diante da exploração e da injustiça, da probreza e da fome que afligem seus semelhantes". Contudo, várias vezes as pessoas não têm autoconsciência das limitações de suas percepções da realidade. O filme "Manufacturing Consent: Noam Chomsky and the Media" demonstra isso claramente. Muito comumente a visão do semelhante é deturpada, proselitista, estigmatizada, etc. O indivíduo precisa primeiramente ter essa autoconsciência. O indivíduo também precisa caminhar com seus semelhantes, experimentando a exploração, a injustiça, a pobreza e a fome junto com seus semelhantes. Só assim há chances de perceber a realidade do outro. (Que desafio!)

Um outro problema no qual devemos pensar é o seguinte: às vezes o pensamento 'moderno' de produção em massa nos vem à mente muito rapidamente. Somos ensinados que o indivíduo é a base de tudo e que a família "é o núcleo da sociedade". O próximo passo seria pensar que características de cidades e nações inteiras são derivadas desses 'núcleos', e que é possível mudar o macro pelo micro. "Think global, act local" (ou "act loco" como já vi escrito)  O problema são as forças invisíveis. Os melhores filmes que demonstram isso são "Home" de Yann Arthus-Bertrand e "The Corporation". Mesmo que seja possível criar micro-comunidades que vivam e encarnem o reino de Deus, de onde vem a idéia de que isso automaticamente se propagaria para as grandes construções/instituições políticas?

Sobre a linguagem de submissão presente em parágrafos do livro como em "sob a autoridade" já escrevi em um post anterior.

Tuesday, January 12, 2010

Missão Integral: oração política, oração sociológica

"Daí se percebe a urgente necessidade de vincular a missão com oração, e não somente oração pessoal [...] mas também com a oração política - a que se relaciona com problemas e necessidades da vida pública." p. 64

Gostei muito da idéia. A linguagem é uma convenção social. Ao orarmos usando a linguagem, estamos não só "falando com Deus" mas com o próximo. Afinal, Jesus ensinou-nos a orar: "Pai nosso". (A quem não se incluiria a expressão "Pai nosso"? )
   Contudo, a linguagem que acontece na prática não é "apenas" política: ela é sociológica, filosófica, histórica, etc. Por mais importante e relevante que a política seja para a práxis no contexto latinoamericano, sugiro de aumentar o escopo para todos os campos do conhecimento humano ( a todos os campos da vida ), principalmente das ciências humanas.
"O Que é Missão Integral?" por C. René Padilla, Editora Ultimato, ISBN 978-85-7779-031-9.

Sunday, January 10, 2010

Missão Integral: missão e submissão

"Uma missão assim será baseada na missão de Jesus Cristo, que se dedicou a ensinar e anunciar a boa nova do reino [...]. Terá como objetivo a manifestação do amor, do poder e da glória de Deus no decorrer da história. Será um instrumento para o cumprimento do propósito de Deus de colocar todas as coisas, tanto no céu como na terra, sob a autoridade de Jesus Cristo."  - p. 54

"Se a autoridade de Cristo se estende sobre toda a criação, o povo que confessa seu nome é chamado a relacionar sua fé com a totalidade da vida humana e da história. Nada que afete o homem e sua história está isento da necessidade e da possibilidade de colocar-se em submissão a Cristo [...] A missão integral é uma consequência lógica da soberania universal de Jesus Cristo." - p. 117

A linguagem de submissão é um tanto preocupante. Não fica muito claro no texto como seria uma hermenêutica em que a "submissão de todas as coisas sob a autoridade de Cristo" não seja um disfarce de uma imposição da autoridade do sujeito. Isto é, a hermenêutica implícita dá a entender uma imposição da autoridade de alguém [dos evangélicos] usurpando uma autoridade divina. A própria linguagem de submissão e autoridade é um tanto preocupante.
Contudo deve-se dizer que essa linguagem tem poucas ocorrências neste excelente livro.

"O Que é Missão Integral?" por C. René Padilla, Editora Ultimato, ISBN 978-85-7779-031-9.

Missão Integral - Profissão: Teólogo

"Inicialmente, temos que admitir que, com frequência, os teólogos têm dado razões para essa atitude negativa em relação à teologia. Eles se esqueceram que seu trabalho só tem sentido se se mantiver estreitamente vinculado ao modo de ser e agir da igreja. [...] mais preocupados com seu próprio status do que com a fidelidade do evangelho. 'Profissionalizaram' a reflexão teológica e a isolaram de outras disciplinas humanas, privando-a, assim, de toda possibilidade de concreção histórica"

Página 25, "O Que é Missão Integral?" por C. René Padilla, Editora Ultimato, ISBN 978-85-7779-031-9.

O isolamento da teologia de outras áreas das Humanas é um fato realmente lamentável. Tanto na esfera dos teólogos profissionais quanto na de líderes e leigos. Este isolamento geralmente esconde uma linguagem inacessível e abstrata, questionando a relevância da 'pesquisa teológica'. Por isso a grande necessidade da Teologia Prática. Ainda é preciso haver uma conversa mais abrangente no Brasil incluindo a Filosofia, a Sociologia, a História, as Ciências Políticas, as Artes e a teologia.

Monday, January 04, 2010

Mundo, Missão, e Igreja - 2 - T.V. Philip

(continuando)

Fonte: http://www.religion-online.org/showchapter.asp?title=1573&C=1521

Leia também a parte anterior, a parte 1.


Refletindo no sentido dos eventos revolucionários que estavam acontecendo na Ásia após a 2ª Guerra Mundial, [M. M.] Thomas e seus colegas na Ásia trouxeram para o pensamento ecumênico suas convicções de que Deus, de alguma forma, está trabalhando nos eventos seculares de nosso tempo além das fronteiras da igreja. No seu pronunciamento à Assembléia de Nova Déli do World Council of Churches em 1961, Thomas falou de Cristo presente no mundo de hoje engajado em um diálogo contínuo com os povos e as nações. “É uma idéia insensata e louca”, disse ele, “pensar que Cristo trabalha apenas através da Igreja ou pessoas Cristãs. De fato a Igreja e o mundo têm o mesmo centro, Jesus Cristo, [e] é, portanto, impossível confinar o trabalho de Cristo na igreja ou através da Igreja.”

Hermenêutica da Teologia da Libertação

"Refletir a partir da prática, no interior do imenso esforço dos pobres com seus aliados, buscando inspirações na fé e no Evangelho para o compromisso contra a sua pobreza em favor da libertação integral de todo o homem e do homem todo, é isso que significa a Teologia da Libertação."

"Interrogar a totalidade da Escritura a partir da ótica dos oprimidos - tal é a hermenêutica ou a leitura específica da Teologia da Libertação.
  Digamos logo que esta não é a única leitura possível e legítima da Bíblia. Mas é para nós hoje no Terceiro Mundo a leitura privilegiada, a 'hermenêutica epocal'."

Trechos do livro "Como se Faz Teologia da Libertação" de C. Boff e L. Boff. Editora Vozes, 1985. ISBN 978-85-326-0542-9.

Motivação para Teologia da Libertação

"Certo dia, em plena seca do Nordeste brasileiro, uma das regiões mais famélicas do mundo, encontrei um bispo trêmulo, entrando casa adentro, "Sr. bispo, o que aconteceu?" E ele, afrando, respondeu que presenciara algo terrível. Encontrou uma senhora com três crianças com mais uma ao colo na frente da Catedral. Viu que estavam desmaiando de fome. A criança ao colo parecia morta. Ele disse: "Mulher, dê de mamar à criança!" "Não posso, senhor bispo!", respondeu ela. O bispo voltou a insister várias vezes. E ela sempre respondia: "Sr. bispo, não posso!" Por fim, por causa da insistência do bispo, ela abriu o seio. E estava sangrando. A criancinha atirou-se com violência ao seio. E sugava sangue. A mãe que gerou esta vida, a alimentava, como um pelicano, com sua própria vida, com seu sangue. O bispo ajoelhou-se diante da mulher. Colocou a mão sobre a cabecinha da criança. Aí mesmo fez uma promessa a Deus: enquanto perdurar a situação de miséria, alimentarei, pelo menos, uma criança com fome, por dia."

Trecho do livro "Como Fazer Teologia da Libertação" de L. Boff e C. Boff.
Editora Vozes. ISBN 978-85-326-0542-9.

Eu, K-fé, estava pensando qual seria a motivação para se fazer teologia da libertação. Lembrei-me desse e de outros exemplos do livro. A vil miséria e as injustiças sociais no Brasil - e em três quartos do mundo - seriam motivações. Quando pensamos em "ame ao seu próximo" rapidamente passamos à aplicação social do mandamento. Ao meu ver, o escopo das práxis de teologias brasileiras teriam no mínimo o mesmo da Teologia da Libertação.

Friday, January 01, 2010

A verdade - 2

(continuação)
  Há ainda os lógicos que buscam o critério da verdade na coerência interna do argumento. Verdadeiro seria então o raciocínio que não encerra contradições e é coerente com um sistema de princípios estabelecidos. [...]
   A verdade pode ainda ser entendida como resultado do consenso, enquanto conjunto de crenças aceitas pelos indivíduos em um determinado tempo e lugar e que os ajuda a compreender o real e agir sobre ele.
  [...] alguém poderá dizer - bem na linha dos positivistas - que só a ciência nos dá o conhecimento verdadeiro. [...] Por outro lado, não há como deixar de reconhecer que a ciência, sendo um conhecimento abstrato, seleciona o que lhe interessa conhecer e reduz as infinitas possibilidades do real, excluindo o sujeito com suas emoções e sentimentos.

Mundo, Missão, e Igreja - 1 - T.V. Philip

Fonte: http://www.religion-online.org/showchapter.asp?title=1573&C=1521

De Edinburgh a Salvador: Missiologia Ecumênica do Século XX por T.V. Philip.


Capítulo 4: Mundo, Missão, e Igreja

Se o período entre 1910 e 1960 viu missão descobrindo a igreja, os próximos vinte anos viram a igreja descobrindo o mundo como lócus de sua vida e missão. As principais características dos desenvolvimentos teológicos dos anos 60 foram uma série de tentativas de levar o mundo secular a sério.

... o movimento teológico presente pode ser visto em termos de um consenso animador o qual parece estar se formando sobre a natureza da igreja vis-à-vis ao mundo. A ênfase “a igreja contra o mundo” de 20 ou 30 anos atrás está agora sendo radicalmente questionada e superada por uma apreciação muito mais positiva do secular e do cultura, e em termos explicitamente Cristãos.

Esta concepção mudada do mundo teve sua correspondente em um entendimento diferente da igreja e sua missão. Teólogos começaram a perguntar se haveria algo profundamente secular, e de forma nenhuma apenas “religiosa”, sobre o próprio Evangelho. Dietrich Bonhoffer descreveu certa vez sua tarefa teológica como “dar uma interpretação não-religiosa a idéias bíblicas”. Desde 1960, uma mudança radical no pensamento eclesiológico aconteceu. A igreja como uma instituição promovendo “religião” e “religiosidade humana” recebeu críticas. A nova ênfase no mundo desafiou a até então visão eclesiocêntrica de missão que havia sido desenvolvida no International Missionary Council e o movimento ecumênico em geral. [...]

Bonhoffer (1906-1945) executado pelos Nazistas em 1945 por sua resistência a Hitler, foi um teólogo Protestante dotado. Suas cartas e papéis da prisão tiveram uma grande influência no pensamento teológico no mundo ocidental. Ele falou do mundo como tendo um amadurecimento. “O mundo que amadureceu é mais sem-Deus, e talvez por essa exata razão mais perto de Deus do que o mundo antes de seu amadurecimento.” Para Bonhoffer, viver em Cristo significava ser uma igreja que existia, não pela fé piedosa, mas para outros. M.M. Thomas (1916-1996) foi o pensador Cristão Indiano melhor conhecido neste século [XX]. Ele foi o moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas de 1968 a 1975. Nos seus escritos e discursos, ele enfatizava a importância do secular para a integralidade da vida e missão da igreja. De acordo com ele, a igreja não é uma esfera de existência distinta e separada do mundo natural e da história. A igreja é nada menos do que o secular, o qual conhece sua verdadeira realidade na era nova inaugurada por Cristo. A igreja é o mundo, a qual sabe ela mesma estar em Cristo, sob o julgamento e a graça do Cristo crucificado e ressurreto. Contrastando com aqueles que construiriam a comunidade de fé como um céu no meio de uma sociedade secular, Thomas falou da igreja consistindo primariamente de leigos fazendo seus trabalhos seculares e testemunhando à verdadeira vida do secular. Ele falou da vocação laica como a base para a vocação do ministério ordenado, e do teólogo como o articulador dos pensamentos teológicos de leigos enquanto eles procuram relacionarem-se como crentes com o mundo laico.

Continua na parte 2.