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Friday, January 29, 2010

Teologia da Libertação: A-cerca da Alienação

"Pode-se pregar de muitas maneiras sobre o Reino de Deus. Pode-se anunciá-lo como o outro mundo que Deus nos está preparando, que vem depois desta vida. Ou pode-se pregá-lo como sendo a Igreja representante e continuadora de Jesus com seu culto, sua dogmática, suas instituições e sacramentos. Estas duas maneiras colocam entre parêntesis o compromisso como tarefa de construção do mundo mais justo e participado e alienam o cristão diante do problema da opressão de milhões de nossos irmãos." (grifo meu)
 Trecho do livro "Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo". Editora Vozes, ISBN 978-85-326-0640-2, p. 36
"5 - REINO DE DEUS NÃO É SÓ ESPIRITUAL
  De tudo isso um dado resulta claro: Reino de Deus, ao contrário do que muitos cristãos pensam, não significa algo de puramente espiritual ou fora deste mundo. É a totalidade desse mundo material, espiritual e humano agora introduzido na ordem de Deus."
ibid p 43.
  Aqui estamos tocando em um ponto importante. O parágrafo começa falando da pregação sobre o Reino de Deus. Seria interessante notar que a pregação faria parte da evangelização e da missão (tanto na Teologia da Libertação quanto na Missão Integral). A parte interessante é quando começamos a pensar nos componentes da crença e da prática que corroborariam para a alienação do cristão.
  (Eu particularmente não vi ainda este tipo de ideia na Missão Integral, pelo menos articulada tão claramente. Enquanto a MI prima pela percepção de problemas sociais graves como a opressão, na literatura e nos discursos nas igrejas a evangelização como proclamação do outro mundo bem como conceitos como "culto" e "igreja" ainda parecem ser complementares à realidade social. Assim, não são alienantes, mas "parte do pacote")
  Talvez o problema não esteja no conceito de outro mundo, nem na "Igreja", nem nas instituições em si mesmos. Talvez o problema esteja em não atrelar constantemente o "outro mundo" (realidade escatológica), "Igreja", e instituições ao contexto social.
  Ainda assim, a pergunta persiste (e desconfio que seja mais epistemológica): existe algum transcendente que não aliena da realidade?
  Mesmo que várias pessoas rapidamente vão responder 'sim', acredito que o uso de linguagem transcendente (como pressuposições de conceitos como "outro mundo", ie "céu", "Deus", "culto", etc e suas ocorrências no discurso) deva estar primeiramente condicionado a um exercício sincero de percepção (e vivência) da realidade. Para que o uso de linguagem transcendente não seja um abuso, sugiro que seja condicionado a uma autocrítica com questões epistemológicas.
  (Sem ter os conceitos filosóficos muito claros, fico pensando se não seria um problema clássico de desconstrução, em que a percepção da realidade exige instrumentos que em vez de sujeitos tornam-se objetos. Não foi Caputo que disse que a desconstrução é a hermenêutica do Reino de Deus? Deve ser o meu sono.)

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