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Tuesday, July 28, 2009

O Doce Problema da Inclusão: Encontrando Nosso Deus no Outro

O Doce Problema da Inclusão: Encontrando Nosso Deus no Outro

Por Samir Selmanovic

Tradução de Gustavo K-fé Frederico

Do livro "An Emergent Manifesto of Hope"
Capítulo 16
ISBN 978-0-8010-6807-2
Baker Books

Originalmente publicado em http://gustavofrederico.blogspot.com

Chomina, cacique da tribo Algonquin, perdeu todos os seus homens protegendo uma expedição dos colonizadores Franceses do Quebéc ao viajarem 2500 quilômetros até a Missão Huron. Um inverno cruel, um ataque brutal, captura e tortura por uma outra tribo indígena Norteamericana resultaram em uma ferida mortal no cacique.

Notando o fim, o Padre Laforgue, jesuíta e líder da expedição, falou para o cacique:

- "Quando eu morrer, Chomina, eu vou ao paraíso. Deixe-me batizá-lo agora para que você também vá para lá."

-"Por que queriria eu ir ao seu paraíso?", respondeu Chomina. "Meu povo, minha mulher e meu filho não estariam lá."

No dia seguinte, enquanto o cacique permanecia deitado morrendo na neve, o Padre Laforgue tentou mais uma vez:

-"Chomina! Meu Deus ama você. Se você aceitar seu amor, ele o deixará entrar no paraíso!"

-"Deixe estar, meu amigo, deixe" murmurou Chomina morrendo.[1]

+

Para muitos de nós, o problema não estava imediatamente visível. Descobrir o Deus da Bíblia parecia como peças de um quebra-cabeças de tudo o que é verdadeiro e lindo se encaixando. Um mundo plano virou 3D, a escala de cinzas virou colorida, como se alguém tivesse acendido a luz. Nós estávamos banhados em luz. A tempo nossos olhos se ajustaram e nós nos vimos nas sombras.

Sempre foi assim. Toda geração daqueles que decidem seguir a Cristo aprende que existem textos bíblicos a serem reinterpretados. Aqueles de nós que são parte da conversa sobre a igreja emergente acreditam que tais transformações são obras de Deus. E para a nossa geração, a sombra não é vista nas falhas das pessoas cristãs ou nas instituições cristãs disfuncionais, por mais falhas e imperfeitas que elas possam ser. Nossa sombra é a própria idéia de Cristianismo. Nossa religião tornou-se um sistema de gerenciamento de Cristo.

Nós sentimos grande alegria na aceitação da humanidade por Deus através de Jesus Cristo. Encheu nossas vidas de luz. Mas a idéia do Cristianismo que outras religiões não podem ser portadoras de graça e verdade projeta uma grande sombra sobre nossa experiência cristã. A graça, o ensino central do Cristianismo, permeia toda a realidade,ou será que ela é algo que está vivo somente naqueles que têm o Novo Testamento e a tradição Cristã? A revelação que nós recebemos por Jesus Cristo é uma expressão do que está em todo lugar em todos os tempos, ou será que o Evento Cristo esvaziou a maior parte do mundo e do tempo da graça salvífica e depositou-a em uma religião, a saber, a nossa? E de forma mais prática, como podemos nós ter uma conversa genuína de mão-dupla com não-Cristãos sobre nossa experiência de Deus se nós cremos que Deus retém sua revelação de todos a não ser os Cristãos?

Porque nós cremos que não há sombras em Cristo, nós não queremos nada menos do que reiterpretar a Bíblia, reconstruir a teologia, e reimaginar a igreja imitando o caráter de Deus que nós como seguidores de Cristo viemos a conhecer.

Quando eu me ponho no lugar do cacique Chomina, eu sinto o Espírito de Deus me perguntando: "O que você escolheria: vida eterna sem seus amados ou morte eterna com eles? " Chomina sabia a sua resposta. Ele preferiu morrer a viver sem seus amados. Movido pelo Espírito Santo, pessoas como Chomina rejeitam a idéia de lealdade ao nome de Cristo e, ao invés, querem ser como ele e assim aceitá-lo de forma mais profunda. Esta escolha entre aceitar o nome de Cristo e ser como Cristo tem sido posta na frente de milhões de pessoas ao longo da história humana e hoje.

Uma pessoa não precisa crer em Deus antes de viver na presença de Deus. Deus está presente queira acreditemos nele ou não [2]. E gente responde 'sim' a ele. Mark, um amigo meu não-Cristão de Nova Iorque, diz que pra ele "tornar-se parte do Cristianismo seria um retrocesso moral." Contudo, ele disse coisas como essa para mim: "Viver é receber um presente. Eu creio que há uma força transcendente acima da nossa existência e parece que a humanidade tem negligenciado este presente. É só olhar para o que nós estamos fazendo uns com os outros. Mas no meio da bagunça, eu vejo a graça de um novo começo por todos os lados ao meu redor. E dentro de mim. E eu várias vezes me esquivo de responder a ela. Eu participo da loucura ao invés. Todas as vezes na minha vida que eu me volto para essa graça para procurar por uma segunda chance, eu sempre ganho. Eu acho que eu quero gastar o resto da minha vida sendo um canal dessa mesma bondade a outros." Essa visão incorpora a doutrina da criação, do pecado, da salvação, e da nova vida. Isto é Cristo, encarnado na vida do Mark, presente em substância ao invés de nome.

Os Chominas e os Marks ao redor de nós deixam-nos pensando se Cristo pode ser mais que o Cristianismo. Ou até mesmo algo que não o Cristianismo. Será que os ensinos do evangelho estão embutidos e podem ser achados na própria realidade ao invés de serem isolados exclusivamente em textos sagrados e nossas interpretações desses textos? Se a resposta for 'sim', será que eles podem estar embutidos em outras histórias, histórias de outras pessoas, e até mesmo outras religiões?

A Idolatria do Cristianismo

Questões que visam a diferenciar Cristo e Cristianismo parecem cada vez menos absurdas do que antes. Comumente definido, o Cristianismo é "uma religião monoteísta centrada em Jesus de Nazaré, e na sua vida e ensinos como apresentados no Novo Testamento."[3] Vale à pena lembrar que Cristo nunca proclamou "O Cristianismo está aqui. Junte-se a ele." Mas Cristo insistiu "O Reino de Deus está aqui. Entrem."

O movimento da igreja emergente veio a acreditar que o contexto fundamental das aspirações espirituais de um seguidor de Jesus Cristo não é Cristianismo mas ao invés o Reino de Deus. Dando-se conta disso vêm várias implicações, e a que mais se sobressai é o fato de que, como qualquer outra religião, o Cristianismo é um não-deus, e todo não-deus pode ser um ídolo.

Atos de ganância, ódio, e negligência das pessoas junto com um Cristianismo que sujou o mundo através da História são um resultado de elas amarem alguma outra coisa mais do que Deus. O pecado é sempre um resultado desse deslocamento do coração de alguém. Alguém ou alguma coisa, um não-deus, torna-se o foco do amor de alguém. Um ídolo é gerado quando alguma coisa agarra a confiança funcional de um indivíduo ou grupo social. Acontece quando, em um relacionamento com Deus, algo além de Deus torna-se um valor inegociável.

Teria-se tornado a supremacia do Cristianismo nosso valor inegociável? Todo pecado é um resultado de algum compromisso de fé com coisas, pessoas, ou forças que não Deus, as quais são em última instância compromissos consigo próprias. Religião – qualquer religião – não se exclui dessas dinâmicas da experiência humana. [4]

As Escrituras frequentemente descrevem outras religiões como idólatras. Embora adorar ídolos frequentemente resultava em violência, sofrimento e degradação, esses eram apenas os sintomas de um problema maior que Deus tinha com adoradores de ídolos: sua tentativa de gerenciar Deus. Era a soberania de Deus que estava em questão.

No Velho Testamento, Deus repetidamente repreendeu seus seguidores por tratá-lo como um ídolo gerenciável, alguém que eles conseguiam evitar evitar através da religião. Cristãos conseguem imaginar coisas como dinheiro, sexo e poder como sendo ídolos. Mas a própria religião Cristã sendo um ídolo?

Certamente, se nós proclamamos que o Cristianismo está imune da idolatria, então nós chegamos à conclusão que, finalmente, Deus tornou-se "contido" pelo Cristianismo [5]. Nós acreditamos mesmo que Deus é melhor definido pela revelação histórica de Jesus Cristo, mas crer que Deus está limitado a ela seria uma tentativa de gerenciar Deus. Se alguém crê que Cristo está confinado no Cristianismo, ela escolhe um deus que não é soberano. Søren Kierkegaard argumentou que no momento em que uma pessoa decide tornar-se um Cristão, ela responde por idolatria. [6]

Religião, seja nas suas formas tradicionais ou pessoais, é a forma pela qual nós abordamos o poder e mistério por trás da vida, e já que todos os seres humanos têm que abordar o poder e o mistério por trás da vida, nós todos somos religiosos. Isto inclui cépticos que dizem "Eu não acredito em Deus. Eu não tenho religião." Isto é uma afirmação religiosa, uma afirmação de dogma. Religião é uma forma de nós justificarmos nossa existência, uma explicação sobre porque nós nos importamos. É nosso "sistema de imortalidade." [7] Então para que sobrevivamos, para que nossos sentidos permaneçam intactos, nós temos que desmanchar ou desacreditar os sentidos que são contraditórios aos nossos. Não é de surpreender que para muitos de nós imaginar a possibilidade de o próprio Cristianismo ser um ídolo no sentido bíblico da palavra é um pensamento traumático demais para considerar.

Será a nossa religião a única que entende o sentido verdadeiro de vida? Ou Deus deposita sua verdade em outras também? Bem, Deus decide e não nós. O evangelho não é nosso evangelho, mas o evangelho do reino de Deus e o que pertence ao reino de de Deus não pode ser sequestrado pelo Cristianismo. Deus é soberano, como o vento. Ele sopra onde ele escolhe.

Cedendo o Controle

O Cristianismo não pode ganhar de volta credibilidade ou cativar de novo a imaginação humana até que ele aprenda a existir para a finalidade de algo maior que si mesmo. As pessoas têm medo com razão de qualquer religião que não aceita seu lugar aos pés do Mistério Sagrado. Se o Deus Cristão não é maior do que o Cristianismo, então simplesmente não se pode confiar no Cristianismo.

Aos olhos de um número crescente de pessoas buscando a Deus, Cristãs ou não, o Cristianismo tem desenvolvido um sentimento de importância sem limite. Por outro lado, existe potencial e beleza em uma religião que consegue pôr o bem do mundo acima da sua própria sobrevivência.

Paradoxicamente, o Cristianismo professa confiar na deidade mais peculiar de todas as religiões: o Deus que encarnou-se, tornou-se um servo, e morreu para algo mais importante para ele do que sua própria vida.

O futuro do Cristianismo depende da sua própria vontade em servir algo maior que si mesmo. Se o Cristianismo quiser ressuscitar tornando-se uma nova vida, ele deve almejar ser como o Deus que ele professa e ceder o controle a algo mais querido do que sua própria vida. E o que pode ser melhor que o Cristianismo? O reino de Deus, é claro. Este reino supera o Cristianismo em escopo, profundidade e expressão. Isto é verdade independentemente de nós falarmos em um Cristianismo "Sem-Jesus" ou "Com-Jesus". Até mesmo na sua melhor forma, a religião Cristã é ainda uma entidade na dimensão humana.

Quando nós dizemos que só Cristo salva, Cristo representa algo maior que a pessoa que nós Cristãos vimos a conhecer. Ele é tudo em todos. E Cristo sendo "o único caminho" não é uma afirmação de exclusão mas de inclusão, uma expressão do que é universal [8]. Se um relacionamento com uma pessoa específica – a saber, Cristo – é a substância total de um relacionamento com o Deus da Bíblia, então a grande maioria das pessoas na história do mundo estão excluídas da possibilidade de um relacionamento com o Deus da Bíblia, juntamente com os Hebreus do Antigo Testamento, que não deixaram de ter conhecimento de Jesus Cristo, a pessoa. A pergunta importante que deve ser perguntada é: iria [o] Deus que dá revelação suficiente às pessoas para serem julgadas mas não revelação suficiente para serem salvas ser um Deus digno de adoração? Nunca!

Deus ilumina todos seres humanos que vieram a existir e abre um caminho para um relacionamento com ele. A Bíblia diz que se uma pessoa fala como um anjo, mas age como um demônio, suas ações valem mais que suas palavras. Suas ações suplantam sua fé. Da mesma forma, alguém pode negar uma fé que está evidente em sua vida [9]. Meu amigo Mark de Nova Iorque serve a Jesus em substância ao invés de palavras, vivendo uma fé em Deus sem palavras [10]. Em outras palavras não há indicações na Bíblia que esta dinâmica se aplica apenas a indivíduos e não a grupos. Religiões vivem debaixo de leis espirituais do reino de Deus. Falando de outras religiões, o teólogo Miroslav Volf afirma: "Deus pode utilizar suas convicções e práticas religiosas, ou Deus pode trabalhar fora dessas convicções e práticas [...] É assim em parte como o Deus que doa e perdoa trabalha nos Cristãos também, várias vezes usando mas também às vezes contornando suas convicções e práticas." [11] Em outras palavras, não há salvação fora de Cristo, mas há salvação fora do Cristianismo.

Nos últimos dois mil anos, o Cristianismo deu a si mesmo um status especial entre as religiões. Uma geração emergente de Cristãos está simplesmente dizendo "Chega de tratamento especial. Nas Escrituras Deus estabeleceu um critério de verdade, e tem a ver com os frutos de uma vida graciosa" (Ver Mateus 7.15-23; João 15.5-8; 17.6-26). Isto é desconcertante para vários de nós que baseamos nossa identidade em uma noção de ter a verdade de uma forma abstrata. Mas a mesa de Deus dá as boas-vindas a todos que buscam, e se qualquer religião deve ganhar, que seja aquela que produz pessoas que são as mais amorosas, as mais humildes, as mais parecidas com Cristo. Qualquer que seja o significado de "salvação" e "julgamento", nós Cristãos vamos ser salvos por graça, assim como todos os outros, e julgados por nossas ações, assim como todos os outros. [12]

Tornando-nos Aprendizes Mestres

A sabedoria é tão gengil e sábia
que para onde for que olhes
tu podes aprender algo sobre Deus.
Por que não ensinaria o Onipresente desta forma?
Santa Catarina de Siena

Para a maioria dos críticos de tal Cristianismo aberto, o problema com a inclusão é que ela permite que verdade seja achada em outras religiões. Para Cristãos emergindo, este problema é bom. Na verdade, em vez de ser um problema, é um motivo para celebrar. Nós não queremos só tolerar [a] característica divina "do outro" como se nós nos arrependêssemos da possibilidade. A característica divina de não-Cristãos não é uma anomalia na nossa teologia. Em vez de adicioná-la como um apêndice nos nossos estatutos de crenças, nós queremos movê-la para o centro e celebrá-la assim como os céus certamente a celebram. O evangelho ensinou-nos a alegrar-nos com a bondade que podemos achar nos outros.

Mais ainda, se não-Cristãos podem conhecer nosso Deus, então nós queremos tirar proveito das contribuições deles à nossa fé. Porque Deus é soberano, presente em qualquer lugar onde ele queira estar, nossa atitude de só aceitar a possibilidade de salvação e característica divina em outros sem uma atitude de aprender com eles nada mais é que preguiça, um pecado que nasce do orgulho. Além de se alegrar, celebrar significa aprender sobre Deus de outros.

Na verdade nós temos feito isso toda semana na nossa igreja. Nós usamos ilustrações de sermões de todos os aspectos da vida debaixo do sol para ilustrar o evangelho do reino de Deus, mas nós não nos atrevemos a usar e dar crédito a tais ilustrações quando elas fazem parte da religião de outro alguém, como a vida de Maomé ou uma história Zen. Por quê? É porque nós temos medo de achar nosso Deus ali assim como nós o achamos em todos os outros lugares? Cristo, o apóstolo João, e o apóstolo Paulo não tiveram medo. Eles usaram termos, conceitos, e fontes de outras religiões da época para transmitir o sentido do evangelho. Eles podiam fazê-lo, e nós não podemos, simplesmente porque Jesus, João, e Paulo não [eram do] Cristianismo mas [eram do] reino de Deus.

Isto explica um outro fenômeno. Se nós acreditamos que o método fundamental de propagar as Boas Notícias é amando pessoas, por que não-Cristãos tão raramente se sentem amados por Cristãos? Minha tese é que o amor aceita o que os outros têm a oferecer e nós pensamos que não-Cristãos não têm quase nada a adicionar a aquilo que é mais valioso para nós, a saber: o evangelho. Embora nós aceitemos suas virtudes com admiração e suas fragilidades com compaixão, no fundo nós não experamos adicionem a aquilo que vale mais para nós: nosso conhecimento e nosso relacionamento com Deus. Nós retemos deles a possibilidade de serem nossos professores. Sem uma atitude de aprendizado, nós não entramos no relacionamento sagrado do tipo "Eu/Tu". E é por isso que eles se retraem. O mundo está isolando de nós o que nós estamos isolando do mundo. [13]

Nós queremos prover o que falta a eles, cuidar das suas necessidades, e ensiná-los o que eles querem saber. Esta posição de doador permite-nos ter um sentimento de controle. Mas amor verdadeiro significa saber como receber. Você ama a sua avó quando você leva receitas para ela; você ama estranhos quando você precisa da companhia deles; você ama os seus pais quando você precisa dos seus conselhos; você ama suas crianças quando você precisa do seu perdão; você ama seus amigos quando você ouve suas histórias. Nós não amamos mesmo alguém até que nós peguemos o que eles precisam dar a nós. Embora nós várias vezes pensemos em Deus como auto-satisfeito, que não precisa de nada, Deus honra-nos necessitando de nós. Esta necessidade de Deus de nós é simbolizada no mandamento do Sábado que tem nenhum outro motivo além de criar um espaço no tempo quando Deus pode apreciar nossa atenção completa, quando um amado pode simplesmente estar com sua amada. O Rabino Abraham Joshua Heschel explicou uma vez como a maior necessidade humana é tornar-se uma necessidade. Deus precisa que nós participemos com ele na cura do mundo.

Nós também amamos outros não apenas dando mas recebendo. Eu fui um Muçulmano, e depois um Ateu, e depois um Cristão. Eu tornei-me um seguidor de Cristo porque um outro Cristão achou os passos de Deus na minha história e na minha religião naquele tempo. Ele me amou aprendendo sobre Deus a partir da minha história. Antes de me ensinar, meu amigo pegou o que eu tinha a oferecer.

Os seguidores de Deus não são chamados para serem os mestres de Deus, mas para serem aprendizes mestres. Quando levada a cabo corretamente, esta atitude não relativiza o que cremos. Na realidade ela radicaliza o que cremos porque ela estabelece Deus como Soberano, aquele que "brilha em tudo o que é justo." [14] Um aprendizado humilde e convicções fortes não são mutualmente exclusivas porque a humildade não é um sinal de fraqueza mas de força. Respeito genuíno pelo que outros podem adicionar à nossa fé não compromete nosso compromisso Cristão, mas o expressa ao invés. É por isso que evangelismo deve ser uma via de mão dupla. Se nós experamos que outros aprendam de nós e que mudem, nós devemos primeiro permitir uma possibilidade real de que nós tenhamos algo a aprender deles e sermos mudados pelo que aprendemos. É o medo e não a força das nossas convicções que não nos deixa aprender sobre nosso Deus de outras religiões.

Preocupações Com Identidade

Se nós aceitarmos a possibilidade de que outras religiões têm histórias redentoras ou verdades nelas, então o que vai ser da nossa identidade? Iria este tipo de humildade sem cuidado levar-nos a um grande sopão de religiões onde a carne do evangelho se perde entre as batatas e as cenouras de outras religiões?

Humildade é a força mais poderosa no reino de Deus. É só ver Deus se ajoelhando diante sua criação na pessoa de Jesus lavando nossos pés (ver João 13). Através da humildade que está no cerne da encarnação e da expiação, Deus nos evangeliza (ver Fil 2.4-11). É por isso que a humildade encerra tal promessa para o futuro do Cristianismo. Ela não exclui evangelismo, mas melhora grandemente suas perspectivas. [15]

Humildade é a expressão máxima de coragem. No contexto do reino de Deus, uma pura demonstração de poder é simplesmente fraca demais para ser efetiva. Nós criamos uma falsa tensão entre manter nossa identidade Cristã intacta e abordar o mundo com humildade. Humildade deve ser nossa identidade. Quando nós abrimo-nos para sermos ensinados pelo "outro", nós não nos tornamos menos seguidores de Cristo, mas mais.

Chegamos ao ponto de aceitarmos a depravação de cada ser humano e a necessidade de arrependimento para cada pessoa, mas no momento em que nós nos agrupamos em denominações Cristãs, ou na religião Cristã como um todo, a doutrina da depravação de repente desaparece das nossas consciências. Na verdade, comportar-se como tendo toda a verdade sobre Deus e abolindo a dúvida saudável é a forma máxima de conformidade – porque toda religião tem um complexo de superioridade – e, portanto, [também] uma perda de uma verdadeira identidade. No mundo como um todo, nenhum grupo ou religião está se arrependendo muito de qualquer coisa hoje. É por isso que ser "penitentes mestres" não seria uma perda de identidade; seria um primeiro passo para nos tornarmos "aprendizes mestres" e [para a] renovação da nossa identidade como uma comunidade Cristã. Nós devemos ser aqueles que [se] convertem primeiro , aqueles que entregam suas armas e se submetem ao Deus Soberano, aqueles que não priorizam nada mais que o reino de Deus, até mesmo [sendo] nossa querida religião.

Meu amigo Mark de Nova Iorque perguntou-me mais de uma vez: "Por que vocês Cristãos querem que o Cristianismo vença o tempo todo? Vocês não parecem saber como viver em um mundo onde vocês não mandam." Isto me fez pensar sobre a história do Cristianismo e suas aspirações de deter o controle. Olhando para trás nostalgicamente para os tempo quando o Cristianismo era um império, nós monitoramos sem cessar nosso poder, nosso crescimento, nossos números, nosso sucesso financeiro, [e] nossa força política. Talvez tenha chegado o tempo de o Cristianismo perder.

Perder a vida é ganhá-la. Não seria a primeira vez em que Deus sairia fora da religião, a qual contém sua mensagem, e faria algo novo. Se Deus achou por bem que seus seguidores saíssem da clausura de uma religião dois milênios atrás, por que deveríamos nós esperarmos que Deus não faça tal coisa no tempo presente? Talvez o Cristianismo deva ser diluído e repartido, gasto como Jesus, quem se doou por esse mundo.

Se nós buscamos primeiro o reino de Deus, então talvez até nossa querida religião, salva de nós mesmos, nos será acrescentada.

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[1] Esta cena é do filme Black Robe de 1991. Padre Laforgue (Lothair Bluteau) e o cacique Chomina (August Schellenberg) são personagens da novela de Brian Moore que foi adaptada para o filme. A estória é histórica [sic].
[2] Ler o capítulo “Poslúdio: Uma Conversa com um Céptico” em Miroslav Volf, Free of Charge: Giving and Forgiving in a Culture Stripped of Grace (Grand Rapids: Zondervan, 2005).
[3] Ver www.wikipedia.org., verbete “Cristianismo”
[4] O pastor Timothy Keller da Igreja Presbiteriana Redeemer de Nova Iorque desenvolveu esta idéia de religião como “salvação própria” e conversão como uma “transferência de confiança” melhor do que qualquer pessoa que eu conheço.
[5] A noção de que o Cristianismo não pode ser um candidato a idolatria foi recentemente expressa por D. A. Carson, cujo argumento equilibra-se sobre a premissa de que os pecados do Cristianismo são sempre um desvio do Cristianismo verdadeiro (Becoming Conversant with the Emergent Church, 201-202). Contudo, o mal feito sob a bandeira do Cristianismo não pode ser deixado de lado dizendo-se “Isso não era Cristianismo verdadeiro” O Cristianismo é o que é. Deixar de lado os pecados do Cristianismo apelando a uma idéia platônica de um certo “Cristianismo verdadeiro” é tanto disonesto com outras religiões e inútil para Cristãos. Nós simplesmente nunca tivemos nem nunca teremos Cristianismo puro e verdadeiro.
[6] Eu parafraseio Kierkegaard aqui. Seus livros trouxeram-me à fé Cristã e eu recomendo Either/Or (New York: Penquin/Putnam, 1992) e Fear and Trembling/Repetition: Kierkegaard’s Writtings, vol. 6 (Princeton, NJ: Princeton University, 1983). Ele consegue criticar o Cristianismo de uma forma que compele o leitor a tornar-se um Cristão.
[7] Ernest Becker, um autor ganhador do prêmio Pulitzer por seu livro Denial of Death, escreve sobre isto no seu último livro Escape from Evil (New York: Free Press, 1975). Ele diz: “Cada pessoa nutre sua imortalidade na ideologia da auto-perpetuação, à qual ele dá sua lealdade; isto dá a sua vida o único significado que ela pode ter. Não é de se espantar que homens se enfurecem com pontos pequenos da crença: se o seu adversário ganhar o argumento sobre verdade, você morre. [Se] seu sistema de imortalidade mostrou-se ser falível, sua vida torna-se falível” (64).
[8] Inclusivismo, uma visão sobre o destino dos não-evangelizados, afirma que todas as pessoas têm uma oportunidade de serem salvas respondendo a Deus em fé baseada na revelação que elas têm. Em contraste com o restritivismo de um lado e universalismo de outro, inclusivismo afirma a particularidade e finalidade da salvação somente em Cristo mas nega que [o] conhecimento da sua obra é necessário para salvação. Inclusivistas crêem que o trabalho de Jesus é ontologicamente (em substância) necessário para salvação mas não epistemologicamente (em nome) necessário. Entre aderentes à visão inclusivista estão Justin Martyr, Zwingh, John Wesley, C.S. Lewis, Wolfhart Pannenberg, e Clark Pinnock. No século XX, de todas as tradições, a teologia Católica Romana abraçou mais decisivamente o inclusivismo, com o “Cristianismo anônimo” de Karl Rahner sendo a apresentação mais celebrada dele. Hoje, entre evangélicos, inclusivismo está começando a desafiar a supremacia do restritivismo. Para textos bíblicos chaves e um tratamento sólido de todas as três visões veja No Other Name, de John Sanders (Grand Rapids: Eerdmans, 1992).
[9] Exemplos disso incluem a parábola de Jesus do julgamento em Mateus 25.31-46 e o relato sobre o encontro de Pedro com Cornélio em Atos 10.23-48.
[10] Para vários exemplos dessas dinâmicas da Bíblia, a história e os escritos de autores como C.S. Lewis, ver Sanders, No Other Name, capítulo 7.
[11] Volf, Free of Charge, 223.
[12] Eu descobri este ensino óbvio do Novo Testamento quando lia The Last Word and the Word after That de Brian McLaren (San Francisco: Jossey-Bass, 2005). Basta a pessoa olhar para qualquer discussão sobre julgamento ou obras no Novo Testamento para ver esta verdade.
[13] Para uma discussão resumida desse conceito, ver o capítulo 23 em Between God and Man, de Abraham Hescel (New York, Free Press, 1997)
[14] Esta frase do hino Cristão “O Mundo é Teu, Senhor” é frequentemente usada para expresser o ensino da “graça comum”, graça que Deus dá para sustentar todo o mundo, diferenciada da graça que salva. Contrastando, o inclusivismo (ver n° 8) argumenta que toda revelação é revelação salvífica e que qualquer graça que Deus extenda a nós não é só para sustentar o mundo, mas para salvá-lo.
[15] Budismo e Alcoólicos Anônimos já provaram o argumento.


Monday, July 27, 2009

São Paulo - VI

This weekend, in my conversations with new friends in São Paulo, one was speaking about the lack of action by the general public with regards to outrageous events of injustice in Brazil. I had asked whether the events are documented by journalists, and he said yes. People know about the great injustices. But - in his view - they take no action. And I agree. I don't know why.

São Paulo - V

This weekend, some of the new people I got to know in São Paulo were narrating to me their stories with violence. A friend of mine was taken by a robber when entering his car. The robber was very polite. My friend told me that he thought the robber was intoxicated with drugs. His relatives were in another car following him all the time. Even his little nephews saw all the incident. The outcome was 'fine': they only drove a few blocks, the robber only took the money and the cell phone.

São Paulo - IV

Saturday I met Alex Fajardo , Tati and the youth from the "Jovens Cristãos" (Christian Youth) group from the Orkut social networking site.
It is interesting to see that most in the group do not like how the church in Brazil operates. Most of them yearn to connect and relate to other people, but are turned off by the legalism and hypocrisy of the leaders or denominations. They come from every kind of Christian denominations.

São Paulo - III

Sunday I met some good people that I only knew on the Internet. Sérgio Pavarini - creator of the famous blog pavablog.blogspot.com, Whaner Endo - owner of the W4 Publishing House, Ana Claudia Braun Endo - married to Whaner, manager of Marketing at the Universidade Metodista de São Paulo.

Sunday, July 26, 2009

Cartas a Um Teólogo - parte 4 - Violência

Caro Teólogo Desconhecido,
Por que tem tanta violência no Brasil?
Qual é o problema?
a) a pregação de paz e amor não chegou às pessoas ? ; ou
b) a pregação contém um discurso moralista forte que foi e está sendo ineficiente? ; ou
c) pregação não faz diferença nenhuma? ; (ela depende da ação, mas a ação depende da pregação)
d) a pregação é violenta?

Acho que Gosto de São Paulo


Da esquerda pra direita: Maurício Domene, Gustavo K-fé, Fabinho Silva, e Obadias de Deus. Eles são amigos meus da lista de discussão Música e Músicos Cristãos (MMC) no Yahoo.




João Alexandre e eu.

Friday, July 24, 2009

Ministério Tupuruíba de Louvor e Adoração

Pena que teve que sair do ar. Cancelaram a conta deles, e o site era atrelado à conta. Este era o Ministério Tupuruíba de Louvor e Adoração. Tinha parceria com o Ministério Çaravá Nossa Terra e MKumbah Records.


Wednesday, July 22, 2009

São Paulo - II

My aunt here was saying that near her house there are around 10 churches. That's a lot to me. I had forgotten about this high density of churches. Most of them are Christian churches. Others in the list include Seicho-No-Ie, Judaism and Muslim. What difference do they make in the daily lives of brazilians? How come we have such high density of churches and so much injustice and poverty?

Tuesday, July 21, 2009

My daily Microsoft frustration - VII

Problem: IIS Manager can't open any site. A dialog appears saying
"Filename:
\\?\c:\Windows\system32\inetsrv\config\applicationHost.config
Line number: 1
Error: Configuration file is not well-formed XML"

Platform: Windows Server 2008 R2 (RC) 64 bits
Context: the problem came out of the blue

Solution: I copied over C:\inetpub\history\CFGHISTORY_XXXX\applicationHost.config to C:\Windows\System32\inetsrv\config.

São Paulo

It's my third day today in São Paulo. One can't ignore the security concerns. My uncle's wife reminded me yesterday of some security recommendations: not to carry anything expensive, to look around, etc. My uncle was taken as 'hostage' in a 'fast-kidnap' "only once" (in her own words). A 'fast-kidnap' (sequestro-relâmpago in Portuguese) is when robbers get you in your car, and take you for a joy-ride, stopping at ATMs to withdraw money. And they leave you - usually - at the middle of nowhere. And they leave the car also in the middle of nowhere, far away from where they drop you. Variations on the theme include stealing the vehicle or killing you.
All my cousins were robbed.
My uncle's wife was speaking of her neighbour's friend here at the same street we are. She was dating a policeman, who killed her with 6 gun shots. The neighbour was asking for people to help pay the air fare for the children, so that they can go live with their grandmother. The neighbour asked my uncle's wife to ask the church for help. The church apparently receives so many requests like this one that (according to them) they can't help.

Friday, July 17, 2009

My daily Microsoft frustration - VI

Problem: trying to login to SQL Server 2008 gave me a 'login failed' Error: 18452, state: 1.

What I was trying to do: to login with my domain user using SQL Server Management Studio, right after installation.

The solution: to right-click on SQL Server Management Studio and 'Run as Administrator'.

Thursday, July 16, 2009

Histórias Verídicas do Pajé Raoni - 5 - Pr. B.S. e os De Fora

Quando era ainda jovem, eu havia organizado a "Operação Sinal de Deus", onde os jovens da igreja foram no semáforo com uma faixa dizendo que Deus amava os motoristas e que não estávamos lá pra receber nenhum dinheiro.
O então pastor interino, Pr. B. S., chamou-me num canto e falou com seu sotaque americanow: "Você está olhando pra fora e está esquecendo os de dentro. Você tem que olhar é os de dentro, não os de fora". Fiquei sem saber o que dizer.
Hoje, interpreto as palavras do Pr. B.S. como tentando fazer o modelo 'venham-até-nós' funcionar.
Recentemente - muitos anos depois - recomecei a pensar no problema. O problema é de inclusão e exclusão. Consideremos uma certa rede de pessoas, à qual daremos o nome de 'igreja'. Elas se unem em torno ou por causa de Jesus. Mas Jesus ao mesmo tempo em que une estas pessoas, as envia. As margens dessa rede então deveria estar em fluxo. Deveria ser dinâmica com os relacionamentos. De repente o conjunto até tem uma margem, mas por causa do 'amar ao próximo', do 'quem é o meu próximo?', do 'banquete dos excluídos' e do 'ide' somos sempre chamados a pular para fora da margem.

Monday, July 13, 2009

Seguindo Jesus na Cultura: igreja emergente como movimento social

Seguindo Jesus na Cultura: igreja emergente como movimento social

Por Ryan Bolger

Tradução de Gustavo K-fé Frederico

Capítulo 11 do livro “An Emergent Manifesto of Hope”. Doug Pagitt, Tony Jones (ed)
ISBN 978-0-8010-6807-2, Baker Books

Tradução publicada originalmente em http://gustavofrederico.blogspot.com

Deus criou culturas para comandar o mundo, e em última instância é Cristo quem une essas culturas. Culturas são decaídas – elas deveriam servir e libertar mas ao invés elas tornaram-se opressoras. Essas práticas culturais levaram a humanidade a praticar idolatria através da dominação e medo. No entanto, porque essas culturas são criação de Deus não falta a elas esperança.

Jesus não rejeitou a cultura; é onde ele começou com pessoas. Ele dialogou envolvendo-as e falou a língua delas. Não que Jesus tenha sido contra-cultural, mas ele foi [um] inconformado na cultura. Como um membro da cultura, ele encarnou a mensagem de vida naqueles lugares onde a cultura advogava morte. Jesus viveu em duas dimensões simultaneamente – ao mesmo tempo dentro da cultura humana e submisso ao reinado de Deus.

As culturas influenciam a prática da religião em uma dada sociedade. Frequentemente é muito difícil de as pessoas saberem as tendências das suas próprias culturas, tanto em termos de seu lugar na História (por exemplo, modernidade ou pós-modernidade) como também em termos de seu relacionamento com os poderes do mundo (por exemplo, como um império ou uma colônia). Por mais difícil que seja, é especialmente útil para seguidores de Jesus conhecer os aspectos tóxicos das suas culturas de forma que eles possam propôr alternativas onde for apropriado.

Ao longo da história a igreja assumiu as formas e estruturas da sua cultura ao redor. Não devemos lamentar isso – as igrejas devem representar culturalmente as próprias pessoas que formam suas comunidades. No entanto, cada cultura e toda cultura é decaída, e portanto, se uma igreja local deseja encarnar o reino de Deus, ela deve ouvir e permitir que esse mesmo reino faça crítica.

Além do retorno do reino, a igreja deve ouvir a cultura também. A igreja várias vezes cria sua própria sub-cultura, separada do reino e separada da cultura ao redor. Para que a igreja realmente sirva de “uma cidade na colina” para aqueles de fora, ela deve interagir dinamicamente com a cultura ao redor de formas que façam sentido para aqueles de fora. Em suma, a igreja local deve ouvir a ambos o reino e a cultura se ela for levar o modelo de Jesus de missão a sério.

A Igreja na Cultura Ocidental Hoje

Várias subculturas no Ocidente hoje são holísticas. Elas vêem conexões entre artes, espiritualidade, economia e política. Elas constroem seu mundo em teias e redes – não simplesmente de forma linear. Elas criam suas formas de vida em torno de imagens ao invés da palavra escrita. Assim como com todas as culturas, essas mudanças representam dinâmicas tanto vitais como destrutivas.

A igreja, se quiser ser ouvida, deve falar politica, espiritual e artisticamente, usando imagens e atividades como seu meio principal de comunicação. A igreja não deve ser ingênua – o meio é realmente a mensagem. Enquanto comunica através dessas formas, a igreja deve oferecer aceitação e crítica a ambos os meio e mensagens contidos. Embora Deus tenha criado as culturas para comandar a criação, porque estas são decaídas devem ser transformadas.

A Missão de Deus

Antes da pregação de Jesus do reino e da existência da igreja há a missão de Deus. Deus demonstrou sua missão no Israel antigo, em Jesus, na igreja primitiva, e nos vários momentos na história da igreja. Essas não foram missões alternativas mas várias instâncias da única missão de Deus: restaurar a criação. A igreja hoje é uma receptora da missão antes mesmo de ser um agente de missão. A missão de Deus é aberta a todos que desejarem participar com Deus. Hoje as igrejas não precisam descobrir sua missão particular; ao invés, elas devem encontrar a missão de Deus, apoiá-la, e executá-la. A igreja não precisa se debater com o que a missão de Deus é no mundo – ainda hoje, a missão de Deus se parece com o trabalho que Jesus fez dentro da cultura Palestina.

Em Jesus nós vemos a missão de Deus tornar-se carne. No Pentecostes o Espírito Santo outorgou poder à igreja para continuar o trabalho de Jesus no mundo. Assim como Jesus foi enviado a Israel, assim também a igreja é enviada a todas as outras culturas. O Espírito Santo lidera e sustenta a igreja para que incorpore o evangelho em todos os contextos, até o final dos tempos.

Uma igreja com semelhança de reino segue a missão de Deus entrando no mundo porque é ali que a missão de Deus está localizada. Tal igreja não precisa buscar criar uma estrutura do tipo “venham-a-nós” e convencer outros a tornarem-se membros – o reino de Deus é muito maior do que as listas de membresia de igrejas locais.

Aqueles que seguem o reino de Deus encarnam as Boas Notícias entre aqueles a quem conhecem – seja nos seus lugares de trabalho, seus clubes de crianças, seus bairros, e até suas comunidades de fé. Eles vivem com o entendimento que primariamente o evangelho aborda como viver a vida – não somente o destino eterno de alguém. A igreja tem a oportunidade de participar com Deus na redenção do mundo. É através das próprias vidas das pessoas que o evangelho torna-se real.

Movimentos do Reino de Deus

Jesus criou um movimento contra-templo[1] cheio de perspectivas alternativas do Torá. Ele desafiou aquelas atividades de fora, exerceu crítica, e modelou um caminho diferente. Mesmo permanecendo dentro da macro-cultura do Judaísmo nos seus dias, Jesus criou alternativas às práticas do templo com características de reino que se opunham ao reino de Deus, tais como o sacerdócio, o templo, e a monarquia.

Movimentos de renovação acontecem fora dos centros de poder institucional, várias vezes em expressões orgânicas nas periferias. Jesus e João batizaram seus seguidores iniciando-os em um movimento, em um caminho alternativo de ser o povo de Deus. Os Israelitas que vinham ao rio Jordão se arrependiam da forma em que eles entendiam sua fé e se preparavam para uma nova forma. Eles ouviram a mensagem de que o reino de Deus estava perto, foram batizados e se juntaram a um movimento dentro das estruturas religiosas daquele tempo.

Movimentos com características de reino providenciam um contraste com todos outros poderes, até mesmo religiosos. Eles não focam em apenas um só problema; ao invés, eles oferecem um contraste a todos os aspectos da vida – na cultura, na economia, e dentro de estruturas sociais e políticas. Quando Cristãos vivem uma lógica alternativa dentro desses poderes, eles começam a transformar esses mesmo poderes.

Movimentos com características de reino desmascaram os poderes ao nomeá-los e ao viverem um caminho diferente dentro deles.Eles demonstram que os poderes não são a autoridade suprema. Por causa do reino de Deus, esses poderes não podem mais dominar.

Abaixo eu exploro cinco características desses movimentos com características divinas.

Um Movimento Comunitário

Toda atividade que Jesus fez foi em um contexto sócio-político. Jesus poderia simplesmente ter procurado transformar a sociedade no nível macro, mas ao invés ele criou uma micro-sociedade para transformar a cultura. Essa comunidade que funcionava 24 horas a semana inteira se relacionava a tudo na vida. Como um novo tipo de família, eles praticaram política, economia e estrutura social alternativas. O Sermão do Monte serviu como sua constituição.

A principal tarefa de igrejas com características do reino é capacitar aqueles dentro da comunidade a servir debaixo do reinado de Deus. Ao incorporar este reino, a formação da comunidade deve ser central e envolve treinamento prático no evangelho: como servir, como perdoar, como amar, como abrir a sua casa para hospedar. Mais importante do que qualquer programa, a formação comunitária fornece uma maneira de a pessoa viver uma forma de vida completamente diferente.

Hoje os que procuram começar novas igrejas devem sempre fazer perguntas do reino. Uma igreja local é só mais uma instituição social qualquer – não há garantia que ela reflita o reino de Deus. Apenas quando a comunidade local segue o reinado de Deus – tanto na sua vida como uma micro-sociedade como no seu testemunho na cultura em geral – ela serve para refletir o reino de Deus.

Um Movimento de Reconciliação

Jesus transforma a noção de revolucionário. Embora ele pudesse ter sido chamado de revolucionário, ele advogou amor em vez de guerra. Seus seguidores teriam-no seguido em uma inssurreição violenta, mas Jesus preferiu não perpetuar a agressão da cultura como um todo. Ele estimulou suas comunidades a não ter inimigos a não ser Satanás e a abandonarem todas os juramentos nacionais. Seu movimento era muito mais diferente dos movimentos revolucionários que antecederam. Ele não advogou ódio aos “grupos de fora”. Ao contrário, ele agrupou os de fora juntos.

A igreja, por sua vez, deve envolver todas as pessoas que se submetem ao governo de Deus, criando um novo tipo de pessoas. Elas devem modelar uma forma diferente de interação humana entre partes desiguais. A nova ordem da igreja é de reconciliação, com raças, idades, etnias, sexos e classes diferentes se unindo.

Membros da igreja devem trazer “os de fora” para dentro da comunidade ou eles não vão aprender as habilidades de reconciliação. A vida comunitária da igreja ajuda suas pessoas a superar seu racismo e sua suspeita daqueles que são diferentes e ensina-os como perdoar. Dentro da comunidade de fé, pessoas superam seus ódios de forma que amar torna-se uma possibilidade real no seu testemunho.

Comunidades com características de reino ajudam a curar divisões na cultura também. Esses fiéis servem como advogados e guias. Eles demonstram uma vida de inclusão, perdão, reconciliação, e não-violência, e eles convidam o mundo a vir à igreja para aprender essas habilidades também.

Um Movimento de Hospitabilidade

Jesus anunciou que os pobres seriam libertos, que teriam o suficiente, e que seriam incluídos na mesa do banquete. Jesus anunciou o Jubileu, um tempo em que o compartilhar levaria a uma abundância, e ele declarou que o tempo de fome havia acabado.

Proclamando a remissão das dívidas, Jesus chama seus seguidores a serem agentes de generosidade. Hoje a igreja encontra-se no contexto de capitalismo consumista, uma cultura onde trocas de interesse próprio alimentam um desejo insaciável. O desafio da igreja é transformar essas trocas em relacionamentos do tipo “Jubileu” de uma economia de presente. Talvez agora “libertação aos cativos” fale àquele preso ao ciclo interminável de desejo de consumo. A igreja que repreende os poderes de consumo pode responder consumindo menos – por exemplo, ao minimizar o tempo dirigindo carros, planos de carreira profissionais, ativismo, o comer fast-food, ou o comprar roupas feitas em fábricas exploradoras.

A igreja se depara com o desafio de como viver em uma economia de consumo enquanto vira as regras de cabeça para baixo – de forma que os pobres vençam. A igreja deve criar práticas que libertem aqueles oprimidos pelo capitalismo consumista, enquanto ratifica e apóia as práticas na economia capitalista que oferecem alívio ao pobre, ao excluído, e ao meio-ambiente. Viver dessa maneira oferece um contraste com o desejo sem limite.

Como partes do testemunho da igreja com características do reino, as pessoas vão extender suas vidas familiares aos de fora, compartilhando aquilo que elas têm com outros. Suas ações no trabalho ou no bairro vão modelar o presente ao invés da troca.

Um Movimento de Liberdade

Jesus criou uma comunidade livre de patriarcado onde ricos e pobres, homens e mulheres, os de dentro e os de fora receberam espaço igual. Jesus tratou aqueles sem status como parceiros iguais. Embora a cultura tenha valorizado relacionamentos patriarcais, Jesus criou uma alternativa a este sistema. Na sua comunidade não há pai, somente mães, irmãos, e irmãs.

Se a igreja hoje for seguir Jesus em relação ao poder, ela deve criar um espaço para o governo de um movimento livre de dominação – uma comunidade de liberdade verdadeira. Ela deve verificar como funcionar recusando exercitar certos tipos de poder, até mesmo para fins legítimos, e recusando praticar a coerção de qualquer tipo, seja física ou psicológica.

Até aqueles com o dom de liderança se submetem ao reino de Deus – uma esfera livre de dominação, achando maneiras de liderar que excluem coerção de qualquer tipo. O mesmo vale para gerentes, empresários, ou líderes missionários, bem como conselheiros, gerentes e técnicos. Se eles criarem sistemas de controle, eles não estarão trabalhando no reino de Deus e suas práticas devem ser transformadas. Em um sistema livre de dominação, o único modo viável de liderança é persuasão através do serviço[2].

Líderes com características de reino criam contextos onde o reino de Deus é abraçado e onde à igreja é concedida autoridade para seguir Jesus para dentro do mundo. Possibilitando esses tempos de discernimento, líderes de igreja ajudam a desenvolver os dons dos menos treinados. Não há diferença em termos de poder entre clero e laicado, pois todos são convidados a tomar as decisões importantes e todos têm poder igual para cumprir seus chamados na comunidade.

Jesus falou contra os abusos de poder no establishment político-religioso. Ele proclamou uma ordem de paz ao invés de uma ordem de dominação. Como Jesus, a igreja deve falar a toda esfera da sociedade para parar dominações – [e] para ouvir os excluídos, os solitários, e os sem voz. Nós podemos ser um modelo àqueles fora da igreja [que mostra] como é quando todos falam e ouvem. No seu testemunho, a igreja denunciará profeticamente todas as tentativas de silenciar ou excluir pessoas da conversa.

A igreja dispersa se recusa a participar controlando outros. As pessoas se recusam a forçar outras através de posição, influência, ou força física. Se a igreja se achar no fundo da pirâmide social, as pessoas vão buscar transformação através da sua subordinação voluntária, nunca procurando agarrar o poder. Se a igreja estiver no topo dessa mesma pirâmide, as pessoas ainda assim vão se recusar a dominar.

Um Movimento de Espiritualidade

Jesus ensinou à comunidade da igreja primitiva a ligar e a desligar, a confrontar e a perdoar. Assim a comunidade é formada nos caminhos de Deus. Igrejas com características de reino oram juntas, confessam seus pecados uns aos outros, cuidam uns dos outros, e animam-se uns aos outros. Às vezes, elas sofrem juntas – às vezes como resultado de serem vários. Uma igreja com características de reino deve ser hábil nas disciplinas de confissão, confronto, e perdão. São essas práticas que marcam essas comunidades como singulares no mundo.

Dentro da cultura a igreja compartilha na crítica profética sobre a morte das práticas espirituais. Discussões sobre espiritualidade desacreditam a secularização, a fragmentação das esferas da vida, e a destruição do meio-ambiente. Séculos atrás a igreja desistiu da crítica secular e aceitou seu papel mínimo na esfera privada, mas a igreja com características de reino abraça esses movimentos da cultura. No entanto, essas igrejas devem exercitar discernimento – a prática da espiritualidade varia grandemente de uma cultura para a outra, especialmente no tocante à religião interiorizada.

Como um movimento, igrejas com características de reino vêem-se como um contraste com as suposições na Cristandade de como religião se parece. Elas notam que os poderes que estão se esgotando da Cristandade determinaram a forma da sua fidelidade. Igrejas com características de reino agora têm que provar que sua fidelidade principal é com o reino de Deus – não com as formas congregacionais americanas de religião.

Culto Resultante

Como as práticas alternativas desse movimento, essa micro-sociedade de reconciliação, generosidade, e liberdade dentro de uma cultura pós-moderna, transformam a prática do culto? Existem certas práticas de culto que podem passar por mudanças como conseqüência do reinado de Deus.

Vencendo vários dos dualismos da modernidade, a liturgia torna-se holística, levando o corpo de volta ao culto enquanto aceita o mistério. Liturgia conecta toda a vida com espiritualidade, vencendo a divisão do sagrado/secular. É a linguagem do povo, então ele falará no idioma comum da espiritualidade, freqüentemente através de imagens. O culto torna-se um lugar onde os membros ganham habilidades de perdoar e serem perdoados.

O culto torna-se um lugar onde divisões de classes são vencidas, e todos os grupos exercem um papel na sua expressão. Não há tratamento preferencial de uma prática cultural sobre outra. O culto demonstra essa nova ordem, essa nova realidade social de todas as pessoas se reunindo para adorar a Deus. Elas ensaiam como são diferentes do mundo através de atos de amor reconciliador. O culto torna dois tipos de pessoa um.

O culto pode ser marcado por uma refeição juntos ou pela partilha econômica. A Eucaristia cria um contexto de abundância, e ajuda econômica é dada àqueles que precisam dela. O próprio culto serve de uma prévia do banquete a vir.

O culto expressa o dom de cada membro, sem um dom ter prioridade sobre outros. O culto compreende uma oferta rica cheia de vários dons, todos igualmente respeitados. Cada um vem para adorar, para criar, participar, compartilhar, e para ser ouvido de formas significativas, e cada um é necessário para discernir onde o Espírito Santo está indo. A liturgia demonstra como os poderes foram retidos e demonstra uma forma diferente de participar do poder, e mostra que a história não é determinada pelos poderosos mas pelo Cordeiro.

Para se parecer com Jesus na Palestina e Paulo no Império Romano, um movimento sob o reinado de Deus deve servir aos poderes políticos dominadores do mundo tanto como um contraste como um agente transformador. Se seguidores de Jesus buscam uma vida com características do reino tanto nas suas comunidades congregacionais como dentro da cultura ao redor, eles devem operar como um movimento que segue a missão de Deus para dentro do mundo. Nesse capítulo nós exploramos umas poucas práticas que comunidades em qualquer contexto praticarão se elas forem realmente encarnar o reino de Deus no seu meio. Espera-se que esta discussão informal possa inspirar outros a darem tais passos. Como tornar-se um movimento social que serve como um sinal do reino de Deus dentro da cultura continua sendo o desafio do tempo presente.



[1] NT: No original: “counter-temple”, não exatamente no sentido de negação, mas sim no sentido de tendência na direção oposta, ou com ordem de direção inversa.

[2] NT: No original: “servanthood”, com a noção de serviço de um empregado, ou serviço de um empregado para um patrão.

Sunday, July 12, 2009

"Querido Dios": Compassion Canada: Does the Child Exist?

In the year 2000, I and my wife were driving in downtown Ottawa, Canada, listening to the Christian radio. We heard an advertisement that began with the voice of a child saying:

"This is so-and-so from Brazil:
'Querido Dios'
[a few more words in Spanish]
"

And the voice of a translator went on speaking as if he were the alledged child describing a grim situation, posing semi-innocent questions.
I and my wife looked at each other astonished. How could this charity feature a child from Brazil speaking Spanish, if in Brazil we don't speak Spanish but Portuguese?
I asked the radio station by email how could they feature such advertisement. The radio station took some time to find the ad, but withdrew the specific ad (at the time, read some more below). I asked Compassion Canada by email if the child was a true child, and explained why I thought that the ad was misleading and untrue.
First Compassion Canada said that they were not primarily responsible for the ads. That they outsourced their ads with an American marketing agency. I then emailed their agency, and this is what they said (I'm paraphrasing, since I lost these emails):
"Thank you for your question. We are still learning more every day about Latin America." Period.
I never got an answer if the brazilian child really existed. There was no phone call, no follow up, no explanation. I can speculate what happened: I think someone planned the ad with the text. Then they found some child from a Spanish-speaking country and recorded the audio. Then they put the ad together.
I also noticed that Compassion Canada was affiliated with some Ethics organization with a Canadian scope. I also emailed this organization with all the email communications. And I got no response from this organization. Zero. Today, years later, I visited Compassion Canada's "Accountability" section in their web site and found no Ethics organization with a specific Canadian scope, so I guess they are not related anymore to that organization.
Last month, in June 2009, I was listening to the same radio station in Ottawa and I heard another ad with the same "Querido Dios". (not that I like listening to Christian radio. I probably listen 99.9% of the time to other stations) This time, the country was indeed a Spanish-speaking country.

Here are my questions:
- Does the child from Brazil exist? Was she the one that recorded the audio?
- Why didn't Compassion Canada take accountability for their ads?
- Was the ad only for Compassion Canada or also for Compassion International (with the ad also featuring in radios in the United States, for instance?)
- What do we make of this whole model of 'supporting poor children'? Isn't giving money away decoupled from the true people that need it a way for Christians of washing their hands? If Christians are truly interested and truly care about the condition of the poor, shouldn't they get involved more directly? Shouldn't they meet and learn about how they live, and what are the economic forces and economic history that led these specific people to the situation they are at?

Thursday, July 09, 2009

Back to the Future - Brazil in practice

I waited 1 hour in the bank to open an account yesterday. It could not be a joint account as I and my wife didn't have with us our marriage certificate (!). So we went back to the bank today and waited about 1 more hour to have it done.
Note: I already had a record in the bank in another branch.

Friday, July 03, 2009

Do you want to go back to Bahia?

Dear ___,
I thought I would capture some of my first impressions going back to Brazil after 11 years in Canada. As you may know, I really don't like the Brazilian 'jeitinho'. I think that this article in French from Wikipedia summarizes well the 'jeitinho'.
The impression that I have of seeing Brazil back again - now as an adult - is that of a place where one needs to bend the rules to succeed or even survive. Laws and rules are 'suggestions'. There is no such thing as a global, universal and formal social contract. The daily lives are shaped by a large series of 'small' violations and abuses that go almost unnoticed.
I don't know what are the social factors behind this motivation to bend/ignore/overcome the rules. Sometimes I feel as if an entire broken social pact were in place. Of course, there's virtually no access to justice to the average individual.
What do you think?

VoIP - Configuração caseira

Eu cheguei em Brasília com meu aparelho de VoIP debaixo do braço. Sabia que o provedor de acesso à Internet - BR Turbo - na casa onde ia ficar tinha um 'programinha' que pedia usuário e senha para conectar, mas não sabia ao certo que autenticação era essa.

Como diria Jack, vamos por partes.

No Canadá, a coisa funcionava de forma mais ou menos simples.


No Canadá eu tive que habilitar umas portas UDP no firewall pro SIP.

No Brasil, descobri que a chave da coisa era o PPPoE. O PPPoE é o protocolo padrão de autenticação do meu ISP - no caso a BR Turbo. Como o PAP2 não 'fala' PPPoE, tive que pôr um outro roteador como cliente do roteador 'principal' que falava PPPoE. Minha primeira tentativa, no entanto, não funcionou:
Não precisei abrir portas UDP no Brasil.

O problema do esquema acima é que o servidor do outro lado do modem não conseguia estabelecer várias sessões de PPPoE com os vários clientes. Alguns clientes conseguiam estabelecer a sessão, mas o servidor 'bloqueava' ou 'desconsiderava' novas sessões.

Portanto, simplifiquei a coisa na segunda configuração, que é a configuração final. Como um dos roteadores já falava PPPoE, deixei só esse roteador, que é também um roteador wireless. A configuração final ficou assim: