Título: Violência Urbana
Autor: Paulo Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida
Edição: 1a. edição, 2003
ISBN: 85-7402-483-X
ISBN-13: 978-85-7402-483-7
Série: Folha Explica - Sociologia
"De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar, principalmente se estiver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro e não se esqueça de levar o som consigo. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja --entregue tudo.
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações. Faz tempo que a idéia de integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. O sentimento de insegurança transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, participação coletiva, as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e do medo." [grifo do K-fé]
"Escutem! Eu venho como um ladrão." Apocalipse 16.15a
Quando Jesus vier você vai dar um tiro nele?
"Está lá um corpo estendido no chão". É falta. Violência urbana existe. Todos nós sabemos o que é na prática. Qual o problema? Acho que é que as igrejas não vão saber caracterizar bem o problema. Algumas posições comuns de ouvir:
1. "É tudo culpa das drogas. Se os jovens fossem crentes não teriam esse vício que gera a violência."
Não consigo acreditar que o problema seja apenas sobre drogas. Será que emprego, habitação e custo de vida não estão relacionados a violência? Ao invés, esta resposta me lembra a parábola de Jesus: "O fariseu ficou de pé e orou sozinho, assim: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como este cobrador de impostos." Lucas 18.11
2. "É responsabilidade do Estado. Igreja e Estado devem ser separados."
Quem é o Estado? O interlocutor não faz parte da sociedade? Porque parece querer se esquivar do problema. Quer dizer que a polícia é que deveria lidar com a violência? Quer dizer que 'igreja' (uma igreja local, por exemplo) não deve se envolver com política? Não deve ajudar o próximo para não fazer política? Quer dizer que o cristão deve se negar a votar, por exemplo, e se isolar em ocas esperando Jesus voltar? (Interessante que às vezes as mesmas pessoas que dizem que Estado e Igreja devem ser separados gostam de votar em 'políticos crentes')
3. "Cantemos mais forte, irmãos."
A atitude "cantemos mais forte" por um lado ignora o que se passa ao redor.
4. "Cantemos mais forte, irmãos.
Aleluia, Aleluia, Aleluia!
Persegui os inimigos e os alcancei
Os consumi, os atravessei
Sob os pés do Senhor caíram
Não mais se levantaram."
O linguajar bélico adora pisar no inimigo. Pau no inimigo! Pau no diferente, pau no fraco! Aqui dentro somos nós que mandamos. Na nossa imaginação vamos dar o troco. No filme no mundo-espiritual-faz-de-conta nós somos os policiais durões que batem no inimigo. À seguir cantar "visitante seja bem-vindo". Quarta-feira tem culto de batalha espiritual. Quinta-feira culto da vitória. Quem sabe a gente dá uns tiros no culto pra incrementar a coisa?
5. "É o fim do mundo. Só vai ficar pior. Bú! Levou um susto? Fica esperto! Vigia, irmão! Jesus pode voltar a qualquer hora. "
Agora que estamos na arca de portas fechadas, e cantemos mais uns corinhos, não muito alto agora, irmãos. Esperemos Jesus voltar. Enquanto isso, aproveitando que tem galinha dentro da arca, vamos brincar de jogar ovos pela escotilha da arca nas pessoas que morrem afogadas pedindo ajuda. Bú! Fica esperto, irmão. Jesus vem como um ladrão. Em vez de promover a paz e a esperança a pessoa fica amedrontando mais o povo.
6. "Vamos evangelizar"
Se "evangelho" é "boa-notícia", qual é a boa notícia? Se tem violência nas cidades qual é a boa notícia? Ou será que o seu evangelho não diz nada sobre violência urbana? Se o bom samaritano cuidou do homem assaltado, o que é que você está fazendo que é equivalente?
7. "Jesus era Arminiano ou Calvinista? Deus é omnisciente? "
Sei lá. Pergunta ao Papa. Nunca entendi esses lances teológicos. Mas abaixa aí pra não levar um tiro. Cadê o capacete da salvação?
8. "Vire pro irmão do seu lado e diga: 'Jesus te ama e eu também'"
O buraco da bala é mais embaixo. Como lemos e com sabemos, a violência minou o sentido de coletivo e o pertencer a uma comunidade. Não estaria na hora de igrejas estarem cientes da importância da comunidade (do bairro, por exemplo), priorizarem os relacionamentos entre as pessoas, e levarem a sério a construção dessa comunidade-exemplo?
Alô alô, bons samaritanos, aonde estão vocês?
Quando os crentes brasileiros lêem a parábola do bom samaritano com quem se identificam?
(pô, agora que eu "estou" Menonita tenho que escrever sobre paz e violência)
1 comment:
Nossa, Gustavo! Que texto!!!
É desafiador e constrangedor!
Realmente é preciso repensar nossa conduta diante da realidade que nos cerca... E de fato emergir compreendendo as nuances das mudanças que ocorrem diante de nossos olhos e, respondermos e reagirmos a elas com a mente de Cristo!!!
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