Tradução livre do Gustavo:
"Finalmente, [o poder do ascetismo religioso] deu [ao homem] a garantia consoladora de que a distribuição desigual de bens desse mundo era uma dispensação especial da Divina Providência, a qual nessas diferenças, como em particular na graça, buscava fins secretos desconhecidos dos homens. Calvino mesmo fez a afirmação muito citada de que somente quando as pessoas, isto é, a massa de trabalhadores e artesãos fossem pobres permaneceriam elas obedientes a Deus." - página 177
"Desejar ser pobre era o mesmo que desejar ser doente" - página 163
Qualquer coincidência com a Teologia da Prosperidade não é mera coincidência. Talvez possamos fazer uma distinção, contudo, entre ganhar dinheiro trabalhando muito e a Lei de Gerson.
Coibições e restrições a "coisas do mundo" também tolhiam as pessoas e botavam lenha na fogueira capitalista. Artes, obviamente, eram "coisas do mundo". Era alegria demais para o crente:
"O teatro era ofensivo aos Puritanos, e com a estrita exclusão do erótico e do nu do campo da tolerância, uma visão radical da literatura ou da arte não poderia existir. As concepções de conversa fiada, de superfluidade, e de ostentação vã, todas designações de uma atitude irracional sem propósito objetivo, e portanto não ascéticos, e especialmente não serviam para a Glória de Deus, mas do homem, sempre estava disponível para servir à decisão à favor da utilidade sóbria contra qualquer tendência artística. [...] Essa tendência poderosa rumo à uniformidade da vida, a qual hoje tão grandemente ajuda o interesse capitalista na padronização da produção, teve sua fundação original no repúdio de toda a idolatria da carne."
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Thursday, March 31, 2011
A ética protestante e o espírito do capitalismo - comentários aleatórios - parte 2
(Parte 1 aqui)
Um detalhe interessante de se perguntar decorre da pergunta sobre a visibilidade que as pessoas poderiam ter sobre o desenrolar do capitalismo ao longo do século XX. Tentando ler de forma "positiva" esses trechos do livro, consigo imaginar um indivíduo Calvinista, por exemplo, pregando o zelo pelo trabalho. Os ganhos individuais pareciam estar próximos. Nós hoje temos o benefício de saber como a história se desenrolou. Por que esses crentes não anteveram os problemas que os exageros do Capitalismo traria? O problema começa a ficar complexo para mim quando começo a pensar na coletividade. Se as práticas comerciais e consequentes conceitos de justiça, respeito, valorização da vida, etc, dos países europeus foram tão danosos para os países colonizados, por que os Protestantes não questionaram a nova ordem capitalista nesses termos? Weber foi um "acadêmico cuja extensão intelectual era extraordinariamente ampla", conforme escreve Tawney no prefácio. O livro, contudo, não levanta nenhuma problemática do "novo mundo". Esta omissão de Weber poderia ter duas causas:
- Weber, sociólogo Alemão, omitiu as questões de justiça e ética "global" por um lapso próprio. Weber cita civilizações antigas do Oriente já na sua introdução, comparando-as com a Europa.
- Weber omitiu as questões de justiça e ética "global" por um lapso próprio e também porque tais questões não foram levantadas historicamente pelos Protestantes. Esta segunda hipótese pode ser verdadeira, mas ainda não tenho elementos suficientes para apoiá-la. É certo que, por exemplo, houve uma mobilização no final do século XVIII pela abolição da escravatura onde alguns Protestantes tiveram papel importante. Contudo, mesmo este movimento de contestação da abolição da escravatura talvez não sirva como exemplo de um protesto contra um sistema econômico inerentemente injusto ou anti-ético.
A tempo: eu encontrei o termo "encomienda" duas vezes no livro, nas páginas 18 e 58 da minha edição (em Inglês, tradução do Alemão).
Um detalhe interessante de se perguntar decorre da pergunta sobre a visibilidade que as pessoas poderiam ter sobre o desenrolar do capitalismo ao longo do século XX. Tentando ler de forma "positiva" esses trechos do livro, consigo imaginar um indivíduo Calvinista, por exemplo, pregando o zelo pelo trabalho. Os ganhos individuais pareciam estar próximos. Nós hoje temos o benefício de saber como a história se desenrolou. Por que esses crentes não anteveram os problemas que os exageros do Capitalismo traria? O problema começa a ficar complexo para mim quando começo a pensar na coletividade. Se as práticas comerciais e consequentes conceitos de justiça, respeito, valorização da vida, etc, dos países europeus foram tão danosos para os países colonizados, por que os Protestantes não questionaram a nova ordem capitalista nesses termos? Weber foi um "acadêmico cuja extensão intelectual era extraordinariamente ampla", conforme escreve Tawney no prefácio. O livro, contudo, não levanta nenhuma problemática do "novo mundo". Esta omissão de Weber poderia ter duas causas:
- Weber, sociólogo Alemão, omitiu as questões de justiça e ética "global" por um lapso próprio. Weber cita civilizações antigas do Oriente já na sua introdução, comparando-as com a Europa.
- Weber omitiu as questões de justiça e ética "global" por um lapso próprio e também porque tais questões não foram levantadas historicamente pelos Protestantes. Esta segunda hipótese pode ser verdadeira, mas ainda não tenho elementos suficientes para apoiá-la. É certo que, por exemplo, houve uma mobilização no final do século XVIII pela abolição da escravatura onde alguns Protestantes tiveram papel importante. Contudo, mesmo este movimento de contestação da abolição da escravatura talvez não sirva como exemplo de um protesto contra um sistema econômico inerentemente injusto ou anti-ético.
A tempo: eu encontrei o termo "encomienda" duas vezes no livro, nas páginas 18 e 58 da minha edição (em Inglês, tradução do Alemão).
Wednesday, March 30, 2011
A ética protestante e o espírito do capitalismo - comentários aleatórios - parte 1
Terminei de ler "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" de Max Weber, escrito por volta de 1905. Li como um brasileiro procurando no texto evidências para algumas perguntas:
- Como podemos medir a influência da Reforma Protestante no avanço do Capitalismo na Inglaterra no século XIX?
- Qual visibilidade teria Max Weber no início do século XX sobre o desenrolar posterior do Capitalismo considerando questões genéricas de pobreza e justiça?
Ao ler as páginas, coloquei-me por vezes no lugar de um Protestante Calvinista, por exemplo. Em resumo, o lema era o seguinte: trabalhe duro. Trabalhe porque ficar de papo-pro-ar é pecado. Trabalhe duro porque a experiência do divino contrasta com a experiência do mundo e o trabalho é um sinal de virtuosidade divinamente outorgado. Isto é, "trabalhar glorifica a Deus". Outro detalhe muito interessante é notar como o racionalismo (vindo do Iluminismo) muda toda a concepção de trabalho e propósito. Este racionalismo ordena a prática religiosa e o trabalho ao mesmo tempo. Há hora para trabalhar. E trabalhar em um sistema de produção em série. (Lembremos do filme "Tempos Modernos" com Charlin Chaplin. O homem é uma peça no sistema de produção. Ele é "coisificado".) Gozar a vida é visto como perda de tempo e, portanto, pecado. As pessoas assim são reduzidas à sua capacidade produtiva. O acúmulo de bens é um indicativo direto do status da religiosidade da pessoa. Isto é, quanto mais dinheiro e bens, mais "abençoado". Rapidamente comparo esse espírito com a Teologia da Prosperidade atual do neopentecostalismo sulamericano.
- Como podemos medir a influência da Reforma Protestante no avanço do Capitalismo na Inglaterra no século XIX?
- Qual visibilidade teria Max Weber no início do século XX sobre o desenrolar posterior do Capitalismo considerando questões genéricas de pobreza e justiça?
Ao ler as páginas, coloquei-me por vezes no lugar de um Protestante Calvinista, por exemplo. Em resumo, o lema era o seguinte: trabalhe duro. Trabalhe porque ficar de papo-pro-ar é pecado. Trabalhe duro porque a experiência do divino contrasta com a experiência do mundo e o trabalho é um sinal de virtuosidade divinamente outorgado. Isto é, "trabalhar glorifica a Deus". Outro detalhe muito interessante é notar como o racionalismo (vindo do Iluminismo) muda toda a concepção de trabalho e propósito. Este racionalismo ordena a prática religiosa e o trabalho ao mesmo tempo. Há hora para trabalhar. E trabalhar em um sistema de produção em série. (Lembremos do filme "Tempos Modernos" com Charlin Chaplin. O homem é uma peça no sistema de produção. Ele é "coisificado".) Gozar a vida é visto como perda de tempo e, portanto, pecado. As pessoas assim são reduzidas à sua capacidade produtiva. O acúmulo de bens é um indicativo direto do status da religiosidade da pessoa. Isto é, quanto mais dinheiro e bens, mais "abençoado". Rapidamente comparo esse espírito com a Teologia da Prosperidade atual do neopentecostalismo sulamericano.
Friday, March 11, 2011
Weber e o Espírito do Capitalismo, parte 3
"A economia capitalista de hoje é um imenso cosmo no qual o indivíduo nasce, e o qual se apresenta a ele, pelo menos como indivíduo, como uma ordem inalterável das coisas na qual ele deve viver. Ela força o indivíduo, desde que ele esteja involvido no sistema de relações de mercado, a se conformar às regras capitalistas de ação. O fabricante que agir a longo prazo contrariamente a essas normas será inevitavelmente eliminado da cena econômica assim como o trabalhador que ou não consegue ou não se adapta a elas será jogado nas ruas sem um emprego."
Trecho do livro "The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism" por Max Weber. Página 55.
Trecho do livro "The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism" por Max Weber. Página 55.
Weber e o Espírito do Capitalismo, part deux, Calvino en passant
(ver a parte 1 aqui)
O prefácio escrito por R. H. Tawney do livro de Max Weber contém um comentário curto sobre a Genebra de Calvino. Leia também um trecho do artigo de Virgil Vaduva aqui.
Tradução livre do Gustavo novamente:
"A própria ideia de Calvino de organização social é revelada pelo sistema por ele ereto em Genebra. Foi uma teocracia administrada por uma ditadura de pastores. Na 'mais perfeita escola de Cristo jamais vista no mundo desde os dias dos Apóstolos', o domínio de vida era um coletivismo ferrenho."
Logo mais adiante, no capítulo I Weber escreve:
"O exercício do poder do Calvinismo [...] como foi imposto no século XVI em Genebra e na Escócia, entre os séculos XVI e XVII em grandes partes da Holanda, no século XVII na Nova Inglaterra, e por um tempo na própria Inglaterra, seria para nós a forma mais absolutamente insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que poderia existir." (página 37)
O prefácio escrito por R. H. Tawney do livro de Max Weber contém um comentário curto sobre a Genebra de Calvino. Leia também um trecho do artigo de Virgil Vaduva aqui.
Tradução livre do Gustavo novamente:
"A própria ideia de Calvino de organização social é revelada pelo sistema por ele ereto em Genebra. Foi uma teocracia administrada por uma ditadura de pastores. Na 'mais perfeita escola de Cristo jamais vista no mundo desde os dias dos Apóstolos', o domínio de vida era um coletivismo ferrenho."
Logo mais adiante, no capítulo I Weber escreve:
"O exercício do poder do Calvinismo [...] como foi imposto no século XVI em Genebra e na Escócia, entre os séculos XVI e XVII em grandes partes da Holanda, no século XVII na Nova Inglaterra, e por um tempo na própria Inglaterra, seria para nós a forma mais absolutamente insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que poderia existir." (página 37)
Thursday, March 10, 2011
Weber e o Espírito do Capitalismo, parte 1
Esses são comentários do livro "The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism" por Max Weber. SBN 684-71921-5. Edição de 1958, Charles Scribner's Sons. Tradução do original em Alemão para o Inglês por Talcott Parsons.
As traduções aqui, portanto, são minhas a partir do Inglês. Sei que há uma edição em Português do livro, mas não conheço detalhes dela.
Do prefácio, escrito por R. H. Tawney:
"Para os Calvinistas, argumenta Weber, o chamado não é uma condição na qual o indivíduo nasce, mas um empreendimento árduo e exigente a ser escolhido por ele, e a ser perseguido com uma noção de responsabilidade religiosa. Batizada nas águas vitalizadoras, senão gélidas, da teologia Calvinista, a vida de negócios, antes vista como perigosa para a alma [...] adquire uma nova santidade. O trabalho não é só um meio econômico: é uma finalidade espiritual. A cobiça, se é perigo para a alma, é uma ameaça menos apavorante que a preguiça. Em vez de a pobreza ser digna de louvor, é um dever escolher uma profissão mais lucrativa. Em vez de haver um conflito inevitável entre fazer dinheiro e a piedade, elas são aliadas naturais, pois as virtudes que jazem sobre os eleitos - diligência, poupança, sobriedade, prudência - são o passaporte mais confiável para a prosperidade comercial. Logo a busca de riquezas, que antes era temida como inimiga da religião, era agora benvinda como sua aliada. [...] Se o capitalismo começa como o idealismo prático da burguesia ambiciosa, ela termina, como sugere Weber em suas páginas conclusivas, como uma orgia do materialismo."
As traduções aqui, portanto, são minhas a partir do Inglês. Sei que há uma edição em Português do livro, mas não conheço detalhes dela.
Do prefácio, escrito por R. H. Tawney:
"Para os Calvinistas, argumenta Weber, o chamado não é uma condição na qual o indivíduo nasce, mas um empreendimento árduo e exigente a ser escolhido por ele, e a ser perseguido com uma noção de responsabilidade religiosa. Batizada nas águas vitalizadoras, senão gélidas, da teologia Calvinista, a vida de negócios, antes vista como perigosa para a alma [...] adquire uma nova santidade. O trabalho não é só um meio econômico: é uma finalidade espiritual. A cobiça, se é perigo para a alma, é uma ameaça menos apavorante que a preguiça. Em vez de a pobreza ser digna de louvor, é um dever escolher uma profissão mais lucrativa. Em vez de haver um conflito inevitável entre fazer dinheiro e a piedade, elas são aliadas naturais, pois as virtudes que jazem sobre os eleitos - diligência, poupança, sobriedade, prudência - são o passaporte mais confiável para a prosperidade comercial. Logo a busca de riquezas, que antes era temida como inimiga da religião, era agora benvinda como sua aliada. [...] Se o capitalismo começa como o idealismo prático da burguesia ambiciosa, ela termina, como sugere Weber em suas páginas conclusivas, como uma orgia do materialismo."
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