"Na teologia da morte de Deus verifica-se uma concentração cristológica sem paralelos na história da teologia cristã. Jesus recalca Deus que morreu e substitui-o. Ele é o verdadeiro Deus. O Deus da transcendência, da criação, dos atributos divinos morreu dentro de nossa cultura empírica, experiencial, pragmática e imediatista. O Deus que se identificou com nossa situação, com nossas trevas e angústias, esse é o Deus divino e se chama Jesus de Nazaré. [...] Deus se fez em Jesus fraco e impotente no mundo. [...] O Deus que o ateísmo em nome do mal deste mundo questionava era o Deus todo-poderoso, infinito, Criador do céu e da terra, Pai e Senhor cósmico. Em Jesus Cristo Deus mesmo assumiu o mal e o absurdo. Identificou-se com o problema e resolveu-o, não teoricamente mas pela vida e pelo amor. Por isso só esse Deus é o Deus da experiência cristã. Não é mais um eterno e infinito solitário mas um dentre nós e solidário com nossa dor e com nossa angústia pela ausência e latência de Deus no mundo.Trecho do livro "Jesus Cristo Libertador", L. Boff, ed Vozes, p. 209 e 210.
Como se evidencia, aqui dá-se não só uma concentração cristológica, como também uma redução da realidade de Jesus Cristo. O Jesus que os evangelhos nos testificam não pode ser adequadamente compreendido sem uma referência explícita a Deus. É verdade que nele houve também a experiência da morte de Deus. Mas isso não significa jamais que ele tivesse recalcado Deus e até libertado os homens de toda a divindade. Ele agiu em seu nome. Anunciou o Reino como Reino de Deus e nos ensinou a chamá-lo de Pai e a sentirmo-nos como seus filhos bem-amados. Negar isso seria reduzir a cristologia a mera fraseologia. "
Acho interessante ver como o escritor não foge da raia ao falar sobre ateísmo. Ele não pega um atalho nem apela rapidamente para dogmas com o intuito de combater o ateísmo. Ao contrário, ele pega o caminho mais longo: o de entender a questão e seus interlocutores e depois comentá-la. Sinto falta desse cuidado no círculo evangélico que a priori parece rejeitar pensamentos que de prima insinuam ameaçar seus fundamentos.
Embora Boff aqui não esteja explicitamente falando sobre Teologia da Libertação, noto como ele afirma uma espiritualidade transcendente. Neste ponto não podemos falar que Boff, enquanto voz na Teologia da Libertação, não é a favor de uma espiritualidade.
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