A imagem de um pentecostal que expressa suas emoções durante o culto e que anda alegre e feliz é uma ótima imagem. Talvez eu tenha sido pentecostal por um tempo e tenho boas lembranças. A ideia de renovação constante e de repensar a tradição também são ótimos princípios.Também tenho que lembrar que o Pentecostalismo é abraçado por muitos irmãos e irmãs das camadas mais populares nos países pobres do hemisfério Sul.
O meu primeiro problema genérico com o Pentecostalismo é a ideia de que as revelações divinas são diretas. É como se Deus falasse diretamente com as pessoas e elas apenas repetissem as palavras de Deus.
Primeiro contra-argumento: não há como Deus "falar diretamente" com os seres humanos, porque essa expressão passaria de qualquer forma por vários "filtros impuros". Lembremos que toda mensagem tem uma fonte e um destinatário. E lembremos que toda mensagem existe ou viaja em um meio. Os "filtros impuros" estão em todos esses lugares: na linguagem e no intelecto do destinatário, no meio em que a mensagem viaja ("contexto"), etc. Problemático ainda seria pensar nos "filtros impuros" na fonte da mensagem, isto é, no lado divino.
Segundo contra-argumento: várias vezes, o que seria revelação divina nada mais é do que especulação humana. O problema está em atribuir a mensagem a Deus. Isto reveste a mensagem de autoridade de forma indevida, o que inevitavelmente leva a abusos de poder e manipulação. (Uma receita para problemas políticos sérios - do micro ao macro)
Meu segundo problema genérico com o Pentecostalismo é o reforço da divisão entre o sagrado e o profano. Deus é tão divino, tão transcendente, tão maravilhoso e tão grande e nós os seres humanos somos o extremo oposto. Não há espaço para ver Deus no sofrimento (Mateus 25). De certa forma desconfio que esta divisão é derivada da ideia de revelação direta.
Assim, os pentecostais costumam criar uma taxonomia, isto é, uma classificação estática do que é sagrado e do que é profano. Ou a coisa/pessoa/sistema/ideia é inerentemente sagrada ou é inerentemente profana. Qual seria o critério para dizer o que é sagrado e o que é profano? É o controle: o que está sob o controle do grupo (entenda-se, dos que "estão do lado correto e certo") isto é sagrado. Todo o resto é profano. É tarefa, portanto, do crente trazer o que é profano para dentro do controle do que é sagrado.
Meu terceiro problema genérico com o Pentecostalismo é a irracionalidade. De certa forma ele advém também dessa percepção da revelação direta. Para proteger a ênfase da emoção em detrimento do pensar, a irracionalidade é infelizmente muitas vezes igualada a fé. Fé por definição seria aquilo que é irracional. Pois Deus é divino, supremo, absolutamente transcendente. Pois qualquer racionalidade, isto é, o pensar, seria um filtro, um obstáculo para a revelação direta.
Mas então encontramos um problema comum a todos os cristãos: existe revelação que não seja direta?
A pergunta é importante. O desdobramento da pergunta pode ser um pouco amedrontador. Suponha que acreditar que a revelação "não seja tão direta assim" nos leve a viver um cristianismo-de-marasmo, um cristianismo-não-engajado, um cristianismo-sem-emoção. Enfim, um cristianismo-de-faz-de-conta. Em outras palavras, se a pessoa não crê que exista "revelação completamente direta", esta pessoa pode mais facilmente ser levada a acreditar que não existam crença e crentes tão dedicados a suas causas.
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