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Saturday, November 06, 2010

Pequenas notas sobre pluralismo religioso

Hoje teve aqui em Brasília um congresso chamado 'Visão 2010' que aconteceu na igreja presbiteriana do Planalto. Teve um painel com o tema do pluralismo religioso. O título era algo como 'Exclusivismo, Inclusivismo e Pluralismo religioso'. Na mesa: Caroline Soares, Rev. Rubem Amorese, Rev. José Sipaúba da Costa Júnior e Marcela Campos. Acho o tema muito importante.
  Embora eu tenha uma opinião um tanto mais plural do que a mesa, gostei das colocações. Aqui eu elaboro um pouco mais um comentário meu.
  Começo com Mateus 25, onde os discípulos não percebem quando viram Jesus (39). E Jesus diz que "quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos, foi a mim que fizeram". Isto é, Jesus está disfarçado no faminto, sedento, no refugiado, no doente e na pessoa presa. Isto é, Jesus está disfarçado em todos os que sofrem.
  Quando falamos sobre inclusão, exclusão e pluralidade, falamos de limites, de fronteiras (amigo Felipe Fanuel: Tillich tem algo a dizer aqui?). Quais são os critérios para defender "os de dentro" e "os de fora"?
  Em Mateus 25 vejo um critério de pertencimento (isto é, Cristo na pessoa), mas não um critério de exclusão. Esse critério de pertencimento, neste caso, é o sofrimento.
  Contudo, o critério nominal religioso acaba sendo mais prontamente assumido. Isto é, quando se fala 'há salvação fora de Cristo?' as pessoas muito rapidamente acabam pensando em fronteiras das religiões: cristianismo, Espiritismo, ateísmo, agnosticismo, catolicismo, etc. A situação interessante seria quando misturamos esses critérios. Por exemplo, poderia Jesus estar disfarçado de um Espírita preso? Ou disfarçado de um pajé faminto? Ou disfarçado de um pai-de-santo doente?
  Ainda sobre esse Jesus escondido, lembro de duas outras passagens - dentre outras - nos evangelhos em que Jesus é confundido por outra pessoa. (Aliás, parando para pensar, existem várias passagens em que a identidade de Jesus é confundida). Buenas, Jesus é confundido com um jardineiro logo após a sua ressurreição. E Jesus continua escondido por várias horas sem ser percebido pelos dois discípulos no caminho de Emaús.

Friday, November 05, 2010

Experimentando com liturgias brasileiras

Em vez de eu esperar um belo dia em que terei tempo para escrever o artigo com calma, pensei em fazer um post escrevendo desestruturadamente tentando captar essência de ideias.
 Tenho visitado as pessoas do Núcleo Rural Monjolo aqui no Distrito Federal. Para conhecer melhor, clique aqui e aqui. Já em um outro artigo eu elaborei sobre a motivação de pensar em espiritualidades engajadas a partir da cultura. Por que pensar em espiritualidade e cultura? Porque penso que há uma chance de pessoas cultivarem com linguagens que façam mais sentido e que, portanto, seriam autênticas.
 Comunidades como a do Monjolo parecem-me ser interessantes para o desenvolvimento de novas 'formas' de ser igreja e de repensar liturgia porque i) pessoas são religiosas, ii) há pessoas politicamente engajadas e iii) é uma comunidade acostumada com o sofrimento , iv) há diversidade de religiões. Não sei o que esperar da influência da herança cultural evangélica, porém. Pode ajudar ou pode atrapalhar.
  A ideia inicial seria o desenvolvimento de algo tipo uma CEB (Comunidade Eclesial de Base). Só que tentando desenvolver aos poucos junto com a comunidade uma linguagem própria. Pulo por cima da eclesiologia por enquanto e vou direto para a liturgia. A questão da eclesiologia seria mais ampla e mais importante.
O que nortearia essa liturgia?
 - A linguagem deve ser construída com a comunidade. Não funcionará bem se eu pensar a coisa toda e dar 'mastigada' porque não vai fazer muito sentido.
 - Usar coisas do cotidiano deles. Procurar embutir no cotidiano os rituais, e/ou derivar os rituais do cotidiano.
 - A história deles deve ser frequentemente lembrada.
 - Deve haver lugar para a espontaneidade.
 - Usar objetos e símbolos que tenham significado para eles. Criar novos símbolos.
 - Uso de recursos visuais.
 - Resgatar e incentivar traços folclóricos antigos. Preservar vários, alterar alguns fazendo alusão a 'espiritualidade'.
  - Ainda na linha de uso de objetos do cotidiano, integrar gestos e danças.
  - Evitar o uso de músicas evangélicas num primeiro instante.
  - Trechos cantados ou recitados que incluam indivíduos e grupo.
  - Incorporar a preparação de refeições em grupo como parte da liturgia. Incorporar gestos e danças e falas à preparação.
  - Ver a refeição em grupo como eucaristia.

Ainda: verificar com Teólogos, Antropólogo e Psicólogos liturgias e ir aprimorando frequentemente. Construir liturgias em conjunto com 'movimentos sociais' presentes na comunidade ou relacionados à ela.