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Friday, December 25, 2009

A verdade - 1

'Todo conhecimento coloca o problema da verdade. Pois quando conhecemos, sempre nos perguntamos se o enunciado corresponde ou não à realidade.
 Comecemos distinguindo verdade e realidade. Na linguagem cotidiana, frequentemente os dois conceitos são confundidos. Se nos referimos a um colar, a um quadro, a um dente, só podemos afirmar que são reais e não verdadeiros ou falsos, devemos reconhecer que o "falso" colar é uma verdadeira bijuteria e o dente um verdadeiro dente postiço.
 Isso porque a falsidade ou a veracidade não estão na coisa mesma, mas no juízo, e portanto no valor da nossa afirmação. Há verdade ou não dependendo de como a coisa aparece para o sujeito que conhece. Por isso dizemos que algo é verdadeiro quando é o que parece ser.
Assim, ao beber o líquido escuro que me parecia café, descubro que o "falso" café é uma verdadeira cevada. A verdade ou falcidade existe apenas no juízo "este líquido é café", no qual se estabelece o vínculo entre sujeito e objeto, típico do processo do conhecimento.
Resta portanto saber o que [e a verdade enquanto juízo a respeito da realidade. Para os escolásticos, filósofos medievais, "a verdade é a adequação do nosso pensamento às coisas". O juízo seria verdadeiro se a representação fosse cópia fiel do objeto representado.. Essa definição sofreu posteriormente inúmeras críticas, sobretudo quando, a partir da Idade Moderna, rompeu-se a crença de que a realidade do mundo aí está para ser conhecida na sua transparência. Afinal, a questão é mais complexa: como julgar a verdade da representação do real pelo pensamento? Ou seja, como saber se a definição mesma de verdade é verdadeira? Além disso, a filosofia moderna vai questionar a possibilidade mesma de conhecimento do real.
Isso nos remete para a discussão a respeito do critério da verdade. Qual o sinal que permite reconhecer a verdade e distinguila do erro? Não pretendemos analisar passo a passo as discordâncias dos autores a respeito do assunto [...]
  Para Descartes, o critério da verdade é a evidência. Evidente é toda ideia clara e distinta, que se impõe imediatamente e por si só ao espírito. Trata-se de uma evidência resultante da intuição intelectual.
  Para Nietzsche é verdadeiro tudo o que contribui para fomentar a vida da espécie e falso tudo o que é obstáculo ao seu desenvolvimento.
  Para o pragmatismo (William James, Dewey, Perice), a prática é o critério da verdade. Nesse caso, a verdade de uma proposição se estabelece a partir de seus efeitos, dos resultados práticos.
  Nos dois últimos casos (Nietzsche e pragmatismo), o critério da verdade deixa de ser um valor racional e adquire um valor de existência, que pode ser sintetizado na frase de Saint-Exupery: "A verdade para o homem é o que faz dele um homem".'
 Trecho do livro "Filosofando: Introdução à Filosofia" de Maria de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, editora Moderna.

Saturday, December 19, 2009

Histórias Verídicas do Pajé Raoni - 9 - Fora Arruda

 A reunião tinha sido marcada para as 18:30 no McDonalds da via Monumental em Brasília. Sim, no McDonalds. Cheguei atrasado, já que a maioria das reuniões no Brasil começa atrasada. É um grupo já com nome de evangélicos que age politicamente. Vários deles vinham participando dos protestos contra os escândalos de corrupção do governador do Distrito Federal, o Arruda, e seus vários aliados. Um amigo trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco numa das áreas mais pobres da cidade. Descrevia ele como havia gravado com sua filmadora várias das manifestações. Em certa altura, os cavalos da polícia saíram correndo na direção dos manifestantes, e este amigo correu para o cavalo não atropelá-lo. Também registrou em seu vídeo o momento em que o comando policial ordena que os policiais retirem suas identificações. Assim ficava mais difícil indentificá-los enquanto batiam nas pessoas arbitrariamente. Uma outra amiga, tendo terminado bacharelado e mestrado em ciências políticas e fazendo doutorado em sociologia, trabalha também em uma das áreas mais pobres da cidade. O lixão da cidade, mais precisamente. Nesse nosso encontro ela descreveu como havia participado das manifestações. Já que estávamos perto do local de manifestação daquela noite, olhou para fora e propôs de nos juntarmos ao grupo. Tanto ela como o outro amigo descreviam as enganações que o Tenente Coronel Silva Filho da Polícia Militar usava. Uma delas incluía conversar com manifestantes feridos, sugerindo de eles irem até a ambulância enquanto levava-os para o camburão em direção da delegacia.

Monday, December 14, 2009

Pacto de Lausanne - I - Responsabilidade Social Cristã

 Estou lendo o livro "Pacto de Lausanne" comentados por John Stott (não sei bem porque "comentados" está no plural na capa do livro).
  O parágrafo 5 do Pacto de Lausanne diz em parte:

"Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam."
(grifos meus)
     
    Stott comenta:
"... houve grande expectativa no sentido de que a Assembléia da Comissão sobre Missão e Evangelização Mundiais do Concílio Mundial de Igrejas, realizada em Bangkok, em janeiro de 1973, sob o título Salvação hoje, produzisse uma definição nova, fiel às Escrituras e relevante para a atualidade. Mas Bangkok nos decepcionou. Embora se incluíssem ali algumas referências à salvação pessoal, sua ênfase foi equacionar salvação com libertação político-econômica. O Pacto de Lausanne rejeita isso, pois não é bíblico." "Salvação é libertação do mal [...]"


    Meu problema é a dicotomia de conteúdo e de essência entre "salvação" e suas manifestações tangíveis, principalmente as sociais. Se salvação não inclui a história de libertação política de povos e indivíduos, se salvação não inclui libertação existencial, se salvação não inclui libertação do eu, do outro, do mal, do credo, da morte, então esse tipo de salvação não se manifesta. Também não penso que seria correto equacionar libertação política a salvação, mas penso que libertação política é uma componente da salvação, assim como são também a vida eterna com Deus após a morte, a assistência social, e as restaurações das relações sociais.

(palavras-chaves / keywords: Lausanne, Missão Integral, Stott, teologia da libertação) 

Monday, December 07, 2009