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Sunday, August 21, 2011

São Pedro morreu de câncer

  A tradição cristã diz que o apóstolo Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo. Pediu para ser de cabeça para baixo porque não seria digno de morrer como Jesus. Pedro é o garoto-propaganda do bom crente convertido, conforme inúmeros sermões. Em suma a pregação é a seguinte: Pedro era um sujeito brigão e impulsivo. Um dos filhos do Trovão. Depois o galo cantou. E Jesus perguntou três vezes se Pedro o amava. (Ninguém acha meio impróprio um homem perguntar isso a outro homem tão insistentemente?) E então Pedro teria se convertido e já em Atos era um novo homem, manso e tranquilo. Bem, ele se desentendeu com Paulo ainda depois, mas deixemos isto para lá. A conclusão dos púlpitos e publicações é unânime: a norma de comportamento é prescrita para todo crente: de violento para passivo.
  Sim, o bom crente não briga, não enfrenta, "dá a outra face". Mas será que isso é o melhor a fazer? "Melhor" em que sentido? "Melhor" para quem e usando quais critérios?
  Para mim esta entortada na história de Pedro nada mais é que a projeção de complexos de inferioridade nas leituras dos textos bíblicos. Já que o leitor tem sua subjetividade encaixotada, sua liberdade tolhida, logo os heróis e exemplos também devem ser encaixotados e tolhidos para depois  serem canonizados como normativos.
  O livro do doutor canadense Gabor Maté faz-me criar um outro fim para Pedro: câncer. Talvez câncer de próstata.
  "Em vários estudos de câncer, o fator de risco mais constantemente identificado é a incapacidade de expressar emoções, particularmente sentimentos associados à raiva. A repressão da raiva não é um traço emocional abstrato que misteriosamente leva à doença. Ela é um grande fator de risco porque aumenta o estresse fisiológico no organismo. Ela não age sozinha mas em conjunção com outros fatores que provavelmente a acompanham, como desespero e falta de apoio social. A pessoa que não sente ou expressa emoções "negativas" será isolada mesmo se rodeada de amigos, porque seu eu real não é visto. A sensação de desespero decorre da incapacidade crônica de ser verdadeiro consigo mesmo no nível mais profundo. E o desespero leva ao desamparo, uma vez que nada que a pessoa faz é percebido como capaz de fazer qualquer diferença".
  Orígenes e Tertuliano que me perdoem.

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