A tradição cristã diz que o apóstolo Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo. Pediu para ser de cabeça para baixo porque não seria digno de morrer como Jesus. Pedro é o garoto-propaganda do bom crente convertido, conforme inúmeros sermões. Em suma a pregação é a seguinte: Pedro era um sujeito brigão e impulsivo. Um dos filhos do Trovão. Depois o galo cantou. E Jesus perguntou três vezes se Pedro o amava. (Ninguém acha meio impróprio um homem perguntar isso a outro homem tão insistentemente?) E então Pedro teria se convertido e já em Atos era um novo homem, manso e tranquilo. Bem, ele se desentendeu com Paulo ainda depois, mas deixemos isto para lá. A conclusão dos púlpitos e publicações é unânime: a norma de comportamento é prescrita para todo crente: de violento para passivo.
Sim, o bom crente não briga, não enfrenta, "dá a outra face". Mas será que isso é o melhor a fazer? "Melhor" em que sentido? "Melhor" para quem e usando quais critérios?
Para mim esta entortada na história de Pedro nada mais é que a projeção de complexos de inferioridade nas leituras dos textos bíblicos. Já que o leitor tem sua subjetividade encaixotada, sua liberdade tolhida, logo os heróis e exemplos também devem ser encaixotados e tolhidos para depois serem canonizados como normativos.
O livro do doutor canadense Gabor Maté faz-me criar um outro fim para Pedro: câncer. Talvez câncer de próstata.
"Em vários estudos de câncer, o fator de risco mais constantemente identificado é a incapacidade de expressar emoções, particularmente sentimentos associados à raiva. A repressão da raiva não é um traço emocional abstrato que misteriosamente leva à doença. Ela é um grande fator de risco porque aumenta o estresse fisiológico no organismo. Ela não age sozinha mas em conjunção com outros fatores que provavelmente a acompanham, como desespero e falta de apoio social. A pessoa que não sente ou expressa emoções "negativas" será isolada mesmo se rodeada de amigos, porque seu eu real não é visto. A sensação de desespero decorre da incapacidade crônica de ser verdadeiro consigo mesmo no nível mais profundo. E o desespero leva ao desamparo, uma vez que nada que a pessoa faz é percebido como capaz de fazer qualquer diferença".
Orígenes e Tertuliano que me perdoem.
FB_init
Sunday, August 21, 2011
The inability to express emotion
"In numerous studies of cancer, the most consistently identified risk factor is the inability to express emotion, particularly the feelings associated with anger. The repression of anger is not an abstract emotional trait that mysteriously leads to disease. It is a major risk factor because it increases physiological stress on the organism. It does not act alone but in conjunction with other risk factors that are likely to accompany it, such as hopelessness and lack of social support. The person who does not feel or express "negative" emotion will be isolated even if surrounded by friends, because his real self is not seen. The sense of hopelessness follows from the chronic inability to be true to oneself on the deepest level. And hopelessness leads to helplessness, since nothing one can do is perceived as making any difference."
A fragment of the book "When the body says no: the cost of hidden stress" by Dr. Gabor Maté.
A fragment of the book "When the body says no: the cost of hidden stress" by Dr. Gabor Maté.
Tuesday, August 16, 2011
Subscribe to:
Posts (Atom)