Dois dos ministros do governo que prestaram declarações ante a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a desnacionalização industrial do Brasil reconheceram que as medidas adotadas, sob o governo de Castelo Branco, para permitir o fluxo direto do crédito externo às empresas, deixaram em inferioridade de condições as fabricas de capital nacional. Ambos se referiam à célebre Instrução 289, de princípios de 1965: as empresas estrangeiras obtinham empréstimos fora das fronteiras a 7 ou 8%, com um tipo de câmbio especial que o governo garantia em caso de desvalorização do cruzeiro, enquanto as empresas nacionais deviam pagar cerca de 50% de juros para os créditos que arduamente conseguiam dentro de seu país. O inventor da medida, Roberto Campos, a explicou assim: “Obviamente, o mundo é desigual. Há quem nasce inteligente e há quem nasce burro. Há quem nasce atleta e há quem nasce aleijado. O mundo se compõe de pequenas e grandes empresas. Uns morrem cedo, no primor da vida; outros se arrastam, criminosamente, por uma longa existência inútil. Há uma desigualdade fundamental na natureza humana, na condição das coisas.A isto não escapa o mecanismo de crédito. Postular que as empresas nacionais devam ter o mesmo acesso que as empresas estrangeiras ao crédito externo é simplesmente desconhecer as realidades básicas da economia...” 32.De acordo com os termos deste breve porém vigoroso Manifesto capitalista, a lei da selva é o código que naturalmente rege a vida humana e a injustiça não existe, já que o que conhecemos por injustiça nada mais é do que a expressão cruel da harmonia do universo: os países pobres são pobres porque... são pobres; o destino está escrito nos astros e só nascemos para cumpri-lo: uns, condenados a obedecer; outros, destinados a mandar. Uns oferecendo o pescoço e os outros colocando a corda. O autor foi artífice da política do Fundo Monetário Internacional no Brasil.
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Sunday, July 03, 2011
Destinado a ser pobre
Trecho do livro "As Veias Abertas da América Latina", de Eduardo Galeano:
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