Perguntaram ao amigo Nelson Costa Jr.: "existe alguma coisa que a religião possa dar que o mundo secular não possa?"
Uma primeira resposta provisória é "sim". É "sim" para bilhões de pessoas que encontram na religião algum sentido. E é impossível eu avaliar em primeira mão as experiências das outras pessoas. Posso acreditar em suas palavras quando declaram que têm uma determinada religião, o que é suficiente para assumir que a religião tem algum significado para sua identidade.
A minha resposta seria incompleta e provisória. O problema ao meu ver desloca-se para a arena da filosofia e da linguagem. Tenho pra mim que os significados das linguagens são todos construídos. Advêm dos muitos eventos complexos que formam a pessoa em seus contextos. Assim também, as linguagens "religiosa" e "secular" são construídas. E a divisão entre o que é linguagem "religiosa" e o que é linguagem "secular" também.
Algumas pessoas dizem que não existe divisão entre o secular e o religioso. As ramificações dessa afirmação, contudo, nem sempre são exploradas. Tenho pra mim a atribuição de significados religiosos às coisas ao redor do ser humano (e às coisas "invisíveis" também) não foi um processo isolado da atribuição de significados não-religiosos. Ao mesmo tempo em que os seres humanos evoluíram na organização social e na descoberta da ciência, também criaram seus mitos, que nada mais são que histórias reflexivas.
Um caminho interessante seria pensar em equivalências entre linguagens religiosas e seculares. Nesta exploração noto, por exemplo, que códigos moralistas de comportamento sexual adotados por religiosos só se vestem de uma linguagem sagrada para dizer, no frigir dos ovos, a mesma coisa que uma grande parcela moralmente conservadora da população brasileira independente de religião. Neste caminho, o desafio está em 1) conversar sobre como conversar e 2) desconstruir estas linguagens e procurar trabalhar com re-significações das linguagens, independentemente de serem "religiosas" ou "seculares" (porque como vimos esta divisão é artificial). Assim, "pecado", sendo um termo "sagrado", seria "dessacralizado" provisoriamente e explorado pelos caminhos dialético e dialógico. Cedo nos daremos conta de que nos encontraremos em uma conversa mais filosófica e menos dogmática.
Como esse caminho entende que os significados do que é religioso foram fabricados ao longo da História, o ônus de justificativa de finalidade e significados recai sobre a religião. E se a religião morrer nesse caminho? Enterra e faz um funeral.
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