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Saturday, January 28, 2012

Comunidade Bijou Street: Anabatistas na Babilônia - parte 3

Tradução de trecho do livro "Widening the Circle: Experiments in Christian Discipleship".

Comunidade Bijou Street: Anabatistas na Babilônia ("Bijou Street Community: Anabaptists in Babylon")
Por Mary e Peter Sprunger-Froese

(Leia também a parte 2 aqui )

Congregações que vivem [de forma] simples, começando e participando em massa em atividades de protestos públicos, acolhendo os estranhos (sem-teto, sem-documento, homossexuais, soldados de consciência ferida, ou mercenários militares), ou criando círculos de discernimento de resistência contra impostos de guerra - esses são exemplos de protestos do corpo.
[...]

Comunidade Bijou Street: Anabatistas na Babilônia - parte 2

Tradução de trecho do livro "Widening the Circle: Experiments in Christian Discipleship".

Comunidade Bijou Street: Anabatistas na Babilônia ("Bijou Street Community: Anabaptists in Babylon")
Por Mary e Peter Sprunger-Froese

(Leia também a parte 1 aqui )

Parte 2

O Começo em Colorado - por Mary
Quando nós saímos do ônibus em Colorado Springs em Março de 1979, uma mulher chamada Donna nos pegou. Fomos direto para a Casa Weber, onde ela e Mary Lynn estavam todas sujas fazendo posters que diziam "Fechem a Rocky Flats" (a fábrica de bombas perto de Denver). Nós descobrimos que a comunidade agora tinha mais que o dobro do seu tamanho em Novembro; uma freira Franciscana, um Metodista, e uma mulher Católica também haviam se juntado. Donna, que vivia separada, também fazia parte da comunidade Weber Street.
  No próximo dia - três dias depois da falha do reator nuclear em Three Mile Island (28 de Março de 1979) nós distribuímos panfletos anti-nucleares para as pessoas no cinema que estava passando "The China Syndrome", um filme de ficção sobre catástrofe nuclear. Na semana seguinte, Semana Santa, nós jejuamos. [...]
   Nos próximos anos, nossa comunidade continuou o trabalho de hospitalidade com os sem-teto, sopão, vigílias pela paz, demonstrações, palestras, visitas a escritórios de congressista e invasões a bases militares. Nós tínhamos reuniões semanais sobre como trabalhar com os residentes da casa-abrigo e reuniões Sábado à noite sobre tudo o mais. Nós também visitamos uma das igrejas Menonitas locais por alguns anos.
  Bastante envolvidos com os protestos em Rocky Flats que engajou centenas de pessoas por vários anos, muitos de nós foram presos e encarcerados. Nós também entrávamos em bases do Exército e da Aeronáutica, às vezes com panfletos, às vezes só com orações. Uma vez nós levamos um forno solar e ferramentas de jardinagem para começar uma conversão de espadas-em-arado em uma base aérea. Outra vez nós tentamos executar uma prisão cidadã com um mandato em busca do comandante da base por crimes de guerra.
  Essas ações surgiam de nossa vida juntos e nosso entendimento da necessidade de resistir ao uma forma de morte tão lucrativa para os poucos e tão destrutiva para os muitos. Momentos de oração e reuniões de "discernimento" precediam estes eventos. Amigos se juntavam a nós, fosse desafiando a lei ou oferecendo comida, oração, ligando e visitando. Mas nunca uma congregação participou nestes eventos ou ofereceu apoio. Seria porque nós não participávamos frequentemente na vida congregacional? Será que nossa comunidade era vista como exclusiva?

(Leia também a parte 3)

Comunidade Bijou Street: Anabatistas na Babilônia - parte 1

Tradução de trecho do livro "Widening the Circle: Experiments in Christian Discipleship".

Comunidade Bijou Street: Anabatistas na Babilônia ("Bijou Street Community: Anabaptists in Babylon")
Por Mary e Peter Sprunger-Froese

Em Novembro de 1978, nós começamos uma caminhada comunitária. Hoje, 35 anos depois, nós continuamos amando, aprendendo, persistindo e resistindo com uma comunidade de fé intencional em Colorado Springs [Estados Unidos]. Às vezes desgastados e com medo, às vezes esperançosos e determinados, nós damos graças por uma base Cristã nessa Meca militar. Nós anseiamos por mais - por igrejas, congregações que andem conosco, com quem possamos lutar, apoiar, discernir e servir - em uma cidade imersa em patriotismo Americano, cercada por cinco bases militares, inventada com pressuposições e instituições militares. Igrejas locais e organizações para-eclesiásticas enchem oito páginas nas nossas páginas amarelas. Quase unânime, elas apoiam e até animam esta realidade militar. Nós anseiamos por luz e testemunhas de um corpo que reconcilie todas as coisas em Cristo, que redima aqueles deixados de fora, e que resista a "César" e a seu império.

  Recém casados, visitamos Colorado Springs em Novembro de 1978. Estávamos associados à nossa amiga Hedy Sawadsky [...].
  Por várias horas ouvimos falar da comunidade Weber Street. Os dois casais mantinham um sopão e uma casa-abrigo para sem-tetos, enquanto protestavam ativamente [contra a] guerra e orando por paz. Eles se inspiravam no movimento Catholic Worker [Trabalhador Católico] - comunidades seguindo o exemplo de Dorothy Day e Peter Maurin, pacifistas Católicos que viviam entre os pobres enquanto advogavam e amotinavam por uma "nova sociedade dentro da casca da velha".
  Steve e Mary Lynn haviam apoiado objetores de consciência durante a Guerra do Vietnã. Steve era um ex-padre que perdeu suas credenciais por causa da reação negativa por seus esforços anti-guerra enquanto servia a uma congregação com muitos membros militares - a norma em Colorando Springs, o que viríamos a descobrir. A comunidade buscava ser uma testemunha de paz de várias formas. Steve e Mary Lynn iam a uma paróquia Católica, e Larry e Laurie [Hesed] eram membros de uma igreja Menonita. Eles deixavam claro que essa era uma comunidade de  "trabalho", não uma igreja. Um entendimento comum dos evangelhos era a base para sua visão e trabalho. A participação em igreja podia ser escolhida como cada pessoa quisesse.
  Essa comunidade tinha uma bolsa comum de dinheiro e recursos compartilhados, e membros da comunidade tinham empregos de meio-período para manterem-se e viverem abaixo do nível de impostos como resistentes e advogados de um modo de viver simples.


Tradução de Gustavo K-fé Frederico

(leia também a parte 2)

Equipes Cristãs de Ação pela Paz: Uma Caminhada de Libertação (trecho)

Trecho do livro "Widening the Circle: Experiments in Christian Discipleship".

Trecho do capítulo "Equipes Cristãs de Ação pela Paz: Uma Caminhada de Libertação" (Christian Peacemaker Teams: The Journey of Liberation)

Por Tim Nafziger

[...]
A Fundação das Equipes Cristãs de Ação pela Paz (CPT)
Em 1984, Ron Sider fez um discurso na Conferência Mundial Menonita em Strasbourg, na França. O discurso acabou simbolizando a fundação das Equipes Cristãs de Ação pela Paz (CPT). Sider expôs uma visão grandiosa de pacificadores às centenas de milhares descendo em zonas de conflito trazendo justiça aos oprimidos e paz a facções em guerra:
  A menos que nós estejamos prontos a morrer aos milhares em novas tentativas dramáticas e fortes pela paz e justiça, nós devemos tristemente confessar que nós nunca realmente quisemos dizer o que dissemos, e que não devemos nunca sussurrar uma outra só palavra sobre pacifismo às nossas irmãs e aos nossos irmãos naquelas terras desesperadas cheias de injustiça.

  Para a maioria dos Menonitas até então, alternativas para a guerra haviam sido na maioria das vezes colocadas em termos de serviço voluntário. Objetores de consciência durante a II Guerra Mundial e Vietnã gastaram seus tempos trabalhando em silêncio como serventes em hospitais ou como parte dos Civilian Conservation Corps em parques nacionais. A visão de Sider de adentrar ousadamente no palco mundial como protetores dos pobres e oprimidos foi animadora e profundamente atraente.  Líderes de igreja Anabatistas pediram que a Seção de Paz do Comitê Central Menonita explorasse mais a ideia.
  Frequentemente passavam-se desapercebidas histórias de ativistas pacifistas que estavam fazendo trabalho de acompanhamento em silêncio em áreas em conflito por décadas. Hedy Sawadsky - membro do comitê diretivo das CPT de 1986 a 2010 é um bom exemplo desse padrão.
  Similarmente, Gene Stoltzfus e Dorothy Friesen trabalharam ao lado de Filipinos, desafiando o regime de Marcos. Marilen Abesamius, uma Filipina que trabalhou com Gene e Dorothy, disse "... A caminhada de Gene conosco durante aqueles momentos difíceis nos ajudou imensamente mas também ajudou-o a transformar sua parte do mundo, e no seu testemunho criativo pela paz global - reverberando assim como a vibração de uma borboleta - através do mundo."
  Uma dessas reverberações foi a crianção do Synapses, fundada em 1981 por Gene e Dorothy, junto com Joan Gerig e Orlando Redekopp depois que voltaram do trabalho com o Comitê Central Menonita fora dos Estados Unidos. Synapses trabalhou para apoiar a luta pela paz e justiça nas Filipinas, América Central, e África do Sul. A co-diretora atual da CPT Carol Rose e a coordenadora de treinamento da CPT Kryss Chupp trabalharam com a Synapses no início dos anos 80.
  Em 1983, Kryss e Gene faziam parte da delegação para Honduras e Nicarágua e viram em primeira-mão a devastação dos ataques dos Contras financiados pelo governo dos Estados Unidos. Os Contras eram grupos armados lutando para derrubar o governo Sandinista na Nicarágua. A delegação também testemunhou as mentiras que apoiaram a guerra. "Nós falávamos sobre como trabalhar com um governo que mente constantemente", disse Steve Wiebe-Johnson, que esteve na viagem. "Como a igreja responde?"
   Mas entre as igrejas pacifistas históricas, o chamado baseado nos evangelhos a desafiar a opressão do governo dos Estados Unidos estava limitado a uma pequena minoria. Junto àqueles já nomeados acima, Bob Hull, Peter e Mary Sprunger-Froese [...], Al Zook, e Peter Ediger estavam ativamente desafiando o militarismo dos Estados Unidos de várias formas. Depois do discurso de Sider, esses ativistas, já compromissados em trabalhar por justiça e desafiando o império, se deram conta de que havia uma oportunidade de atrair um grupo maior. Essa visão de pacificação, eles concordavam, incluía táticas como ação direta não-violenta e advocacia política.
  Em 1986, Gene ajudou a reunir líderes de igrejas pacifistas históricas, bem como ativistas, para falar sobre como que este movimento poderia ser. Como Gene posteriormente descreveu este encontro nas Torres Techny em Chicago, "Deus concedeu um espírito de unidade ao encontro de cem pessoas e enviamos um chamado para a formação da CPT". Dorothy e Hedy, nomeadas como membros-gerais ativistas do primeiro comitê organizador, trabalharam muito nas reuniões de planejamento para manter a CPT direcionada para a ação e engajamento com o mundo ao invés "da produção de literatura de paz". Em 1988, Gene foi nomeado diretor da nova organização.

 [...]

Tradução de Gustavo K-fé Frederico

Vida em Comunidade: Uma Caminhada Ilustrada

Trecho do livro "Widening the Circle: Experiences in Christian Discipleship" (Aumentando o círculo: Experiências em Discipulado Cristão)

Trecho inicial do artigo

Vida em Comunidade: Uma Caminhada Ilustrada
Por Dawn Longenecker com ilustrações de Sam Jerome [N.T.: ilustrações presentes no original]

  Através da palavra e da imagem, siga a caminhada de Dawn Longenecker por várias comunidades cristãs. Formado na tradição Menonita como um pacificador, Dawn nem sempre escolheu permanecer dentro de contextos de igrejas Menonitas. Sua história mostra que a participação em uma comunidade intencional pode ser um compromisso para a vida inteira, seja casada ou solteira, com ou sem filhos. Ela desafia os leitores a levar a sério o chamado de Jesus de buscar justiça e trabalhar por reconciliação, sem importar seus contextos de igreja.

Eu cresci na Igreja Menonita. Na Igreja Menonita Lebanon (Lebanon, Oregon, EUA), meu pai, Dan, era o pastor e professor de Escola Bíblica Dominical. Eu lembro que ele compartilhou a sua história de serviço no 1-W [N.T: leia aqui) como um jovem ao invés de servir nas forças militares. Isto causou um forte impacto em mim enquanto eu pensava sobre meu próprio chamado para ser pacificador.
  Na Igreja Menonita Line Lexington (Lexington, Pennsylvania, EUA) onde meu pai também pastoreou, eu lembro que o pastor de jovens ajudou-nos a nós todos adolescentes a escrevermos nossas próprias declarações de Objetores de Consciência. Mesmo sendo eu mulher e que não tivesse que me preocupar em ser convocada [compulsoriamente para o serviço militar], me explicaram que este era um processo importante para todos os membros da Igreja Menonita. Eu ainda creio que isto é verdade.
   Ir à Universidade Menonita Ocidental (então uma Faculdade) foi uma experiência aprofundadora. Ali fui desafiada a pensar sobre pacificação como "ativa" e não "passiva". Este entendimento levou-me à Comunidade Sojourners [N.T. Peregrinos] e sua pacificação ativa e testemunho público em culto nos meu tempo depois dos estudos.
   Passei meu segundo ano de Faculdade em Washington, D.C., [EUA], através do programa Ano de Serviço de Estudos de Washington patrocinado pela Faculdade Menonita Ocidental (o programa mudou de nome para "Programa Acadêmico Washington" alguns anos atrás).
   Eu aprendia sobre justiça social e a necessidade de cristãos responsabilizarem instituições e governos para servir à humanidade e a fazer jus aos princípios de justiça e paz para todas as pessoas. Ensinaram-nos a manter em tensão o valor de instituições, as quais são necessárias na sociedade, com o reconhecimento de que instituições podem tornarem-se ferramentas para aqueles no poder para promover e manter um status quo, o qual frequentemente trabalha contra a justiça para os pobres.
  Eram os anos de 1977-1978 e um grupo cristão radical em D.C. chamado Comunidade Pela Não-Violência Criativa [Community for Creative Non-Violence] (CCNV) estava ativo na luta pelos direitos dos sem-tetos.
   Mitch Snyder, o seu líder, que havia sido anteriormente sem-teto e preso por roubo, tornou-se um advogado efetivo por esta causa. Ele converteu-se ao Cristianismo pelos irmãos Berrigan, ativistas pacifistas que gastaram tempo na cadeia com ele.
 [ Os irmãos Daniel e Philip Berrigan, ativistas Cristãos não-violentos, ficaram muito conhecidos publicamente nos anos 60 quando queimaram cartões de convocação para o serviço militar em protesto contra a guerra.]

  Mitch aprendeu que atos não-violentos de desobediência civil podem ser usados para confrontarem instituições que não estão honrando os direitos básicos das pessoas. Uma vez Mitch levou o CCNV a servir uma refeição aos senadores e membros do Congresso no shopping no centro com comida recuperada do lixo para mostrar quanta comida é gasta enquanto pessoas passam fome.
   CCNV enviou um pedido às igrejas da área para abrir suas portas para os sem-teto em um período quando o desabrigo urbano batia recorde. Um grande número de pessoas estavam tendo alta dos hospitais psiquiátricos na área de D.C. sem lugar para ir.
  A Igreja Memorial Luther Place foi uma de duas igrejas no centro que abriu suas portas, permitindo que sem-tetos dormissem no santuário. Eu servi como voluntária nessa igreja de 1977 a 1978, quando eles estavam abrigando os sem-tetos. Depois que eu me formei na Faculdade, ainda sentindo-me impulsionada pelo seu ministério e advocacia, trabalhei no seu abrigo por mais um ano.
  Esta era uma instituição de igreja que estava respondendo a necessidades humanas básicas, tendo sido compelida a fazê-lo por um grupo comunitário Cristão menor e mais radical. Eu vi uma instituição ser mudada. Eu fui inspirada.
  Durante este período, o CCNV continuou sua pressão implacável sobre o governo federal até que finalmente Ronald Reagan cedeu um dos prédios de D.C. para uso como abrigo. Hoje ainda o CCNV opera neste prédio, o maior abrigo de sem-tetos em D.C. Situa-se na Avenida Mitch Snyder em homenagem à batalha implacável de Mitch em favor daqueles com mais necessidades na nossa cidade.
  Através dessa experiência, aprendi que as pessoas de fé precisam desafiar as instituições. Aprendi que as instituições que criamos como sociedade (tanto sem fins lucrativos como com fins lucrativos), embora necessárias, várias vezes tornam-se arraigadas e rígidas. Quando focam na sobrevivência institucional elas operam em oposição direta às maiores necessidades das pessoas.
  Aprendi que organizar a comunidade e testemunhar publicamente por preocupações sociais não são coisas que pessoas seculares fazem, mas obras que pessoas de fé precisam fazer também. Na verdade, quando pessoas de fé envolvem-se mais ativamente, elas renovam a igreja.
  Eu fui inspirada ao permanecer no meu compromisso de fé, a pesar de vários amigos meus deixarem a igreja. Eu me dei conta de que comunidades de fé como a CCNV e a Igreja Memorial Luther Place eram luz para nós outros, impelindo-nos a levantarmos e sermos pacificadores ativos.

 
Tradução de Gustavo K-fé Frederico